domingo, 15 de maio de 2011

O amigo escocês

Quando eu digo que não conheço ninguém na Escócia estou a ser injusta. Eu tenho um amigo. O meu amigo escocês detesta a Escócia e especialmente Glasgow. Durante o nosso tempo em Cardiff toda a gente lhe chamava nomes por isso porque, claro, toda a gente adora a Escócia.
No outro dia, sentados à mesa de mais um dos bares geniais desta cidade, o meu amigo contou-me como se sentia mal desde que tinha voltado. E eu finalmente percebi. Ele não gosta de aqui estar porque estar aqui representa estar parado. Stuck, como se diria em inglês. Sem evoluir. A fazer as mesmas coisas todos os dias, a ver sempre as mesmas pessoas, a não aprender nada de novo. E regressar fê-lo perceber o quanto tinha avançado e agora era obrigado a retroceder. Pior, descreveu-me o sentimento de verificar como todos os seus amigos estavam exactamente iguais, com a diferença que muitos começavam a casar ou morar junto.
Percebi perfeitamente de onde vinha a sua angústia. O meu amigo sofre da mesma doença que eu: pés leves. Antes de ir para Cardiff trabalhava no sector financeiro e fazia muito dinheiro. Detestava. Um dia não aguentou mais, largou tudo e foi viajar durante um ano. Depois decidiu ser jornalista, profissão para a qual tem óbvio talento. Hoje é pelintra como eu, tem dois empregos e meio como eu e sonha com o mundo inteiro. Pois, como eu.
Recentemente o meu amigo escocês recebeu notícias que iria abandonar a Escócia. Em Julho vai mudar-se para Londres para trabalhar na CNN. Good things come to those who wait. Eu vou ter muitas saudades dele.

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