terça-feira, 15 de julho de 2008

O texto que me reconciliou com o Mr. Dylan

"Era o nome mais esperado do festival Optimus Alive!. Passou brevemente pelo mais recente álbum, 'Modern Times', mas deu prioridade às suas memórias. Contudo, fê-lo seguindo as suas próprias regras: este é um ícone 'rock'n'roll', fiel apenas à sua vontade em não ser uma resposta às expectativas.
Entre a multidão - cerca de 30 mil pessoas - há dançarinos de twist, ancas como as de Elvis e chapéus que foram brindes festivaleiros e agora pertencem a cowboys à beira-Tejo. Outros esperam por versos de protesto, para satisfazer o desejo secreto de entoar bem alto o refrão de Mr. Tambourine Man. Quem canta é Bob Dylan - "Mr. Dylan", como foi apresentado no início do concerto - e as duas reacções encontram-se numa só: o Dylan que esteve no Optimus Alive!, na noite de sexta-feira, não é o da romântica década de 60. Mas, ao mesmo tempo, é o único Dylan que poderíamos receber em 2008.Like A Rolling Stone chega no final. Dylan continua de olhos presos nas teclas que agora o acompanham em todos os palcos. E foge à melodia que ficou para a história como uma das melhores de sempre (dizem as tabelas publicadas ao longo de décadas). Mas este é o último tema e os coros libertam-se: aquele refrão tinha de ser cantado como foi originalmente gravado, depois de duas horas de reinvenção. Bob Dylan é, hoje, vocalista de uma banda de rock'n'roll que adapta harmonias e tons às suas limitações. "

Tiago Pereira, in Diário de Notícias
Irritaram-me as críticas demasiado boas para um concerto claramente aquém de todas as expectativas. No entanto ocorreu-me que pudesse estar a ser dura de mais com um músico cuja história não conheço assim tão bem. Esta crítica deu-me uma certa sensação de equilíbrio. Consolou-me um bocadinho.
Acaba assim: "A voz tem os 67 anos bem marcados e pode recordar a frase "Dylan não canta mal, canta diferente". Espera-se pela harmónica para viajar até aos discos que originalmente revelaram aquelas canções.Mas, no final, a memória é só uma: Bob Dylan esteve em palco. Mostrou a sua dança minimalista (apenas com uma perna), foi ícone rock inimitável e esboçou um sorriso na despedida. Histórico."
Histórico é sempre bom.

2 comentários:

Fátima disse...

Gostava mesmo de escrever como estas pessoas. é mesmo verdade. histórico. para mim é como aqueles amigos que desaparecem durante alguns tempos, e quando voltam estão mesmo diferentes...mas gostamos sempre deles

Rui Coelho disse...

é isso: um amigo que foi ficando cada vez mais amargo e ainda que chegue ao insuportável nunca o abandonamos. e é como te disse - viste o grande bob, tá visto. não posso dizer o mesmo.

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