quarta-feira, 29 de junho de 2011

Um coração com cinco assoalhadas

Na cabeça, a gente sabe, cabe tudo. "O saber não ocupa o lugar", diz-se. O mesmo não se pode dizer do coração. Ok, as mães garantem: amam-se os filhos por igual, o amor multiplica-se a cada nascimento. Certo. Mas a maternidade é uma coisa bíblica e podem esperar-se milagres. Para tudo o resto não sei, não.
Um amor pode consumir todo o espaço habitável num coração de tamanho médio. Tudo o resto torna-se um pequeno afecto, comparado com a intensidade daquele sentimento. Tudo desce um lugar na hierarquia.
Esse tipo de excesso sentimental tende a abrandar com o tempo. A arrumar-se, dobrar-se como as camisolas nas gavetas, apertar-se para fazer espaço. Porque as paixões assolapadas têm muito ar e com o tempo, ou se esvaziam ou se tornam em maravilhoso sumo concentrado.
Mas depois há aqueles sentimentos que são como erva daninha. Uma mistura de mágoas, receios, traumas, memórias, amor-ódio e nostalgia. São sentimentos que ficam por lá, restos moribundos que ainda assim nunca morrem. E ocupam espaço. Talvez não ocupem um espaço imenso. Mas ocupam o suficiente para impedir outros de vingar. E infectam tudo aquilo em que tocam. Por isso é que precisamos de um coração XXL. Grande.

1 comentário:

Francisco Maia disse...

"Coração não é tão simples quanto pensa, nele cabe o que não cabe na despensa."

Três vidas inteiras e uma penteadeira =)