segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Tal como um elefante
EUA são sexy
Agora, desde quando é que se aprendem as especificidades políticas de outros países antes do nosso? Definitivamente os EUA são bem mais sexys* que Portugal.
*Obrigado Bárbara Reis, depois de ti percebi que há todo um leque de palavras que se podem conotar com este adjectivo - depois de um lead sexy, tudo pode ser sexy.
Pára tudo!!
Estou em puro êxtase! "Porque quando nasce um menino é Natal!"
É a coisa mai linda de sempre! "Amanhã serás operário do Natal de outro meninoooo" (isto quer dizer que seremos pais, para os mais distraídos)
"Fomos feitos pelos pais, não viemos da cegonha" lá lá lá
O lenhador é mal pago e o Natal da costureira "é só trabalhar" - mas se deres um beijinho à tua boneca "é como se desses um beijo a esta costureira que transformou trabalho em bonecos e carinho". O carteiro "leva e traz um saco de amizade", o palhaço "com o riso come e dorme" - "num palhaço que se ri há sempre um homem que chora" - , o pasteleiro "de barrete branco e grande barriga, sempre de faces coradas a fritar as rabanadas" e os vendedores de brinquedos "não têm mãos a medir, ficam com as mãos dormentes enquanto há mãos a pedir". No final contam-nos que os sete operários do Natal são nossos amigos, "tão amigos como os teus companheiros de escola, tão amigos como os teus irmãos, tão amigos como quem te dá presentes no Natal" - "Cada operário que trabalha para que tu possas ter um bom Natal te dá um presente: o presente da canseira, o presente do trabalho, o presente da amizade".
E aqui chega a minha preferida: Os Amigos!
Quem faz o Natal para todos nós? São os amigos!
Quem nos dá prazer e dá calor? São os amigos!
A quem é que damos a ternura? É aos amigos!
A quem é que damos o melhor? É aos amigos!
Os amigos são o nosso bolo de Natal
Cada amigo nosso vale mais que um Pai Natal
É um irmão nosso que trabalha no Natal
E com suas mãos faz a diferença do Natal
O dinheiro pouco importa
O que importa é a verdade
E a prenda mais valiosa
É a prenda da amizade
Quem faz das tristezas forças
E das forças alegrias
Constrói à força de Amor
Um Natal todos os dias.
Isto é tão politicamente incorrecto hoje em dia que só dá vontade de rir - mas rir da forma mais ternurenta e entusiasta possível, porque eu cá estou nas sete quintas. Aconselho vivamente até para quem não conhece. É delicioso!
Tenho entretém para a noite.
domingo, 28 de dezembro de 2008
A questão que já todos pusemos
Em finais dos anos 90 ia todas as semanas à aldeia dos meus pais um professor de pintura. Os velhotes encontravam-se, faziam exposições, — estavam felizes. Mas isso era evidentemente um luxo, uma loucura “guterrista”, uma fantasia capaz de nos levar à falência (como dez estádios de futebol? ou como salvar bancos de investimento?). Não, não podemos. Em Portugal o que é civilizado é deixar os velhos abandonados e desocupados no fim das suas vidas.
Em Portugal, dizem-nos, não há dinheiro para os grandes projectos. Então e os pequenos projectos — arranjar as calçadas, cuidar dos jardins, melhorar o transporte urbano, pintar prédios, cuidar de aldeias, criar bibliotecas, manter museus abertos, fazer desporto amador, pôr creches no local de trabalho? Sim, eu sei. É tudo poesia. Peço desculpa por falar nisto."
sábado, 27 de dezembro de 2008
Natais passados
Sem dúvida o vinil da minha infância. Num encadear de músicas, várias personagens explicam porque é que a sua profissão é importante para que o Natal funcione.
A análise de Markl (sim, ele faz análises) era coisa que nunca me tinha passado pela cabeça. Isto acontece-me muitas vezes. É como a Anita ou aquele amigo de infância que toda a gente percebe que é gay. É que guardo dessas coisas a memória de quando era demasiado pequena para perceber 75% do mundo. E como não mexo mais nelas, a memória assim fica.
Por isso nunca pensei que "Os operários do Natal" fosse uma coisa de esquerda(duuuhhh! bastava o título). Aliás, nem sequer sabia que era cantando por Carlos Mendes, Fernando Tordo e Paulo de Carvalho, com letras de Ary dos Santos (isso talvez tivesse ajudado). A única coisa que saberia dizer é que o carteiro era o meu preferido e que Natal não era Natal sem este disco, logo a seguir ao coro de Santo Amaro de Oeiras (a que Markl também faz referência), cuja capa eram dezenas de Pais Natal a cantar numa pose engraçada. Se tudo isto também vos traz recordações, espreitem o post do meu conterrâneo: http://havidaemmarkl.blogs.sapo.pt/412423.html
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Provavelmente, não, seguramente.
Que os blogues são um arquivo de nós próprios, das nossas lutas, das nossas esperanças, das nossas preocupações. Diários disfarçados de crónica de jornal, entre o sério e o sentimental.
Hoje a dúvida persistiu com mais força e vagueei pela blogosfera em busca de um cobertor. Os cliques rebuscaram nos anos, nos meses, e em Outubro de 2007 encontrei a minha lágrima no canto do olho e sorriso amolecido. Sim, já passou um ano, mas eu espero que ela ainda ache o mesmo. Eu acho.
Pijamas de Natal
Digo-o porque o tema quente da minha consoada girou em torno de uma pequena reportagem de rua, que entrevistava as pessoas que faziam as últimas compras. À pergunta "O que é que veio comprar?", um rapaz que sai de uma loja da Baixa responde: "Comprei umas calças de pijama para a minha namorada".
A resposta pode parecer simples mas isso é para quem não é dado à arte de filosofar (e nós somos). Surgiram logo várias teorias: ele tinha uma tara - para dormir, só calças, mais nada - , ela estragou as calças do pijama e precisava de umas que combinassem com a camisola, ele não tinha dinheiro para o pijama inteiro, ele achou que era romântico comprarem o pijama a meias (esta última acrescentei eu).
Não há nada como uma questão relevante para lançar a reflexão sobre o significado do Natal.
Quando entramos no carro, após uma qualquer festa ou reunir de pessoas, há dois tipos de reacção: há o que começa imediatamente a dizer mal de x e y, da prenda, da atitude, da comida ou seja o que for, e aquele que diz "foi giro, não foi?". Dispenso o primeiro.
Obrigada.
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Havendo mundo
Ilhas perpendiculares
E sempre a dúvida se há ou não grupo de controlo.
É mais uma coisa tipo: eu rio-me contigo e conto uma confidência porque és quase meu amigo. Mas na verdade é mais amigo daquela pessoa que não suporto. E o novelo enrola-se num complexo desfiar de amizades aos bocadinhos. Porque amigo é aquele a quem podemos dizer de quem não gostamos, ou não? E se não gostamos do melhor amigo do nosso amigo? Do namorado, do irmão adorado... Dizemos? Ou olhamos para o lado, respiramos fundo e esboçamos um sorriso amarelo na altura em que o assunto vier à baila?. "Sim, ela é mesmo querida". Podemos (devemos) fazer isso?
Mas já fugi ao assunto. Voltemos à minha experiência científica.
O grupo reúne-se todos os dias e entrelaça histórias. Há quem goste de hierarquias: "A minha pessoa preferida é x, a seguir é y e depois w". Marca terreno. Fico feliz por ficar de fora das linhas porque as linhas iam cozer-me a um trapo sujo.
No entanto o jogo de revela e esconde continua sempre. Ou contamos demais - e tropeçamos na nossa sinceridade - ou contamos de menos e não somos parte do grupo. A experiência não tem fim.
No fundo o objectivo é misturarmo-nos naturalmente. Mas não há nada de natural nisso. É um jogo de pecinhas de diz-que-disse. Que cansa. Que gasta a capacidade humana de adaptação. Esse equilíbrio entre o próximo e o distante. Faço-o tão mal... Quando dou por isso estou a tentar insistentemente gostar de uma pessoa porque alguém de quem gosto gosta dela. E se gosta tanto, devo ser eu que embirro de graça. Faço piada, meto colherada na conversa. Tento. E um dia dá-se um clique e percebo que chega de tentar gostar de quem não gosto. Claro que depois do clique é mais difícil conter a tentação de responder torto ou sorrir placidamente a uma provocação. O clique muda tudo.
Mas voltei a fugir ao tema. Ou o tema quis enganar-me.
sábado, 20 de dezembro de 2008
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Manoel de Oliveira, uns dias atrasado
"Entre aqueles que elogiam apenas a longevidade de Manoel de Oliveira e aqueles que atacam a sua obra, há uma coisa em comum: não viram os filmes (10 minutos na RTP2 não conta). Nenhum cineasta tem sido vítima de tantos clichés e de tanta ignorância. Vale a pena ler o livrinho que acompanha a caixa Oliveira agora editada, onde João Lopes desmente com factos as parvoíces mais comuns (como a «duração excessiva»). Oliveira é um dos grandes cineastas vivos, e mais que os cem anos interessa sublinhar os setenta anos de carreira, a sua fidelidade voluntarista a um cinema livre e pessoal, à margem das ideias maioritárias e intolerantes. Digo isto à vontade, porque não sou um indefectível de Oliveira. Acho que tem vários filmes falhados (A Divina Comédia, A Carta) e alguns desastrosos (A Caixa, Um Filme Falado). Tenho também pouco interesse pelos seus filmes «históricos» (de Non até Cristóvão Colombo). Mas quem fez Douro, Faina Fluvial, Acto da Primavera, Francisca, Vale Abraão ou Vou para Casa não tem nada que provar aos filisteus. Adepto de uma noção teatral e literal da adaptação, é um dos grandes mestres do romanesco romântico, estilizado num registo distanciado e de uma ambiguidade católica perversa. Parece-me impossível gostar de Ozu, de Bresson ou de Dreyer e achar que Oliveira não vale nada. Não há nem nunca houve um só cinema (Godard fala da linhagem Lumière e da linhagem Méliés). Os filmes de Oliveira são difíceis, «elitistas» e pouco dados a expectativas comerciais e consensos críticos. Quem elogia o aspecto «anedótico» dos cem anos ou ataca os seus filmes, faz-lhe sem saber uma homenagem."
Os malditos afectos
Todos os posts acabam em pergunta e 80% são sobre o amor, no geral. Como sei que gosto de ti, como sei que gostas de mim, como sei se alguma vez vou gostar de alguém como A gosta de B? Como sei se um dia vou ser totalmente feliz? Como sei se os meus amigos são aquilo que parecem?
As palavras li-as por puro voyerismo, por curiosidade. Mas os textos deixaram-me a pensar. Não será esta problematização dos "afectos" o primeiro passo para os tornar complicados?
É claro que eles são complicados, mas quando se teoriza demais, põe-se o pé em folha verde. Quando alguém diz "quando a pessoa certa aparecer eu vou saber e não vou ter tantas dúvidas", apetece-me ir lá dizer: isso é nos filmes. Quando as pessoas dizem que ouvem Deus, também não é exactamente uma voz, presumo. Essa coisa cristal clear demora algum tempo, não é um passe de mágica perfeito. Há dúvidas - há mil dúvidas -, medos e um volta atrás mental constante. Faz parte do processo.
Mas isto sou eu a teorizar.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
A equipa de futebol
Avisei logo que não contassem comigo e fiz figas para que a coisa ficasse por aí. Mas não. "Vá lá, vá lá, vá lá, vá lá!". Não. Não quero saber se vos falta uma pessoa ou se "assim não tem graça". Se eu jogasse é que não ia mesmo ter piada nenhuma, acreditem.
O convite levou-me numa viagem pelo tempo, quando havia aulas que obrigavam a essa coisa do exercício físico. Como eu tentava ser invisível.
Sempre achei que as aulas de Educação Física não deviam ser obrigatórias, porque por mais que eu prestasse atenção às regras e me esforçasse, estava condenada à mais desastrosa nulidade desportiva. Eu não tinha mesmo jeito. Jamais poderia ter um cinco ou um quatro. E o três era por simpatia do professor, de certeza, porque eu era bem comportada.
Lembro-me de ter chegado ao fim do 12º ano e ter pensado nisso. "É pá, nunca mais vou ter aulas de Educação Física". Foi um alívio e uma paz para a minha auto-estima.
Então e agora estou eu a fazer mexer o intelecto, a fazer valer o cérebro, e querem que eu jogue à bola? Amigas, vocês não entendem a psique de um looser desportivo. Nunca mais poderíamos conviver como iguais depois de me verem tentar movimentar uma bola.
Por agora prometi que assistia aos jogos, que torcia, até pulava se fosse preciso. Elas ainda acham que na hora H eu me vou entusiasmar e saltar para o campo.
Mas o que eu tenho a dizer é: "No relvado, jamé!"
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Prémios Gasganete
E eles são: Francisco Van Zeller (presidente da Confederação da Indústria Portuguesa), Manuela Ferreira Leite (presidente do PSD), a cadeia de supermercados Pingo Doce e Pedro Nuno Santos (deputado do PS).
Motivos:
O slogan "sabe bem pagar tão pouco" valeu à cadeia de supermercados Pingo Doce a nomeação. "É uma frase que se dirige aos consumidores e é aproveitado por nós para denunciar a política de emprego da empresa", referiu um dos responsáveis do concurso.
"Se não houver precários não há nada", foi a "pérola" de Francisco Van Zeller, enquanto Manuela Ferreira Leite foi nomeada pela frase: "Temos que banir a palavra precariedade do nosso dicionário porque é tudo precário, qualquer trabalho que se arranje tem sempre essa dimensão precária".
Pedro Nuno dos Santos foi nomeado por ter dito que "os actuais falsos recibos verdes continuam falsos depois das alterações, com uma diferença, é que serão mais caros".
Dizem que Portugal é um país de Palavra. Só não especificam que palavras...
Diz que é uma espécie de Top Model
1º Karl Lagerfeld, estilista
2º Roger Federer, tenista
3º Barack Obama, presidente eleito dos EUA
4º Brad Pitt, actor norte-americano
5º Haakon Magnus, príncipe norueguês
6º José Sócrates, primeiro-ministro português
7º Jude Law, actor britânico
8º Príncipe Carlos, Reino Unido
9º Nicolas Sarkozy, presidente francês
10º Príncipe Kril, da Bulgária
Estes espanhóis...
A Grécia arde
(…)
A polícia carregou contra 300 manifestantes, na capital, Atenas, mas também houve violentos distúrbios no vizinho porto do Pireu e em Salónica, a segunda cidade do país, em Trikala, no Centro, em Larisa, Volos, Patra e nas ilhas de Corfu, Creta, Samos, Lesbos e Rodes. Foram incendiados um grande armazém e a árvore de Natal junto ao edifício do Parlamento. Pelo menos 35 pessoas foram detidas e mais de 50 ficaram feridas.Os distúrbios destruíram já 130 estabelecimentos atenienses. A câmara municipal suspendeu as actividades natalícias.O Partido Socialista Pan-Helénico (PASOK, oposição) pediu à população que criticasse o Governo mas se abstivesse de novos actos de violência.Os professores universitários iniciaram três dias de greve. Os blogues populares entre os estudantes do secundário incitam-nos a boicotar as aulas, num clima de insurreição. Ao longo destes dias manifestantes, incluindo muitos anarquista, têm gritado "polícias, assassinos", e lançado bombas incendiárias, enquanto helicópteros tentam controlar as multidões.”
Quando os países deixam de ser apenas lugares distantes cheios de pessoas desconhecidas, começamos a sentir uma verdadeira preocupação ao ler estas descrições. Percebemos que as guerras do mundo – com todas as suas contradições e consequências - são também um pouco nossas.
Faço figas Sofia, já sabes. Filakia *
sábado, 6 de dezembro de 2008
É que já não posso - entupi completamente a paciência - com conversas de catálogo sobre homens e mulheres. Já revirei os olhos 35 vezes, suspirei em surdina 27 e encolhi os ombros 43. Tudo nuns 15 dias. As mulheres são de Vénus, os homens de Marte. Já se sabe...
Estes são alguns dos lugares comuns mais insuportáveis que as pessoas estão CONSTANTEMENTE a repetir: os homens são todos iguais, as mulheres são mais inteligentes, os homens só pensam em sexo, as mulheres são umas cabras umas para as outras, os homens são muito mais honestos e porreiros, "eu só tenho amigos homens, nunca me dou bem com mulheres" (como se a pessoa a proferir esta frase se considerasse uma excepção da sua "espécie"), os gajos giros nunca gostam de gajas feias, as mulheres são mais sensíveis. Tudo bem regado de uma sessão de visitas ao Hi5 onde desfilam namoradas "horrorosas" de ex-namorados ou amigos, facto que "não faz sentido nenhum".
No outro dia proferi um "que disparate" e levei com um "já irritas com essas coisas". Por isso voltei aos suspiros.
O girl power é das coisas mais "estupidinhas" que conheço. É o único adjectivo possível.
P.S. Antes de virem defender estes lugares comuns pensem lá se não lhes conhecem umas 2342 excepções. É que o ditado "a excepção confirma a regra" só conta se for uma...
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
terça-feira, 25 de novembro de 2008
O Desafio
A Tracey já reservou o Bob, o Rui os Beatles, o Arrumadinho o Sérgio Godinho e a Pipoca o Frank Sinatra. Tudo boas escolhas. Tentem adivinhar a minha:
1) És homem ou mulher? Essa muída
2) Descreve-te: Sonhadores Inatos
3) O que as pessoas acham de ti? Frágil
4) Como descreves o teu último relacionamento: O Centro Comercial fechou
5) Descreve o estado actual da tua relação: Vermelho redundante
6) Onde querias estar agora? No Bairro do Amor
7) O que pensas a respeito do amor? Encosta-te a mim
8) Como é a tua vida? Olá, tenho que ir andando
9) O que pedirias se pudesses ter só um desejo? Dá-me lume
10) Escreve uma frase sábia: "Enquanto alguns fazem figura/ Outros sucumbem à batota/ Chega aonde tu quiseres/ Mas goza bem a tua rota"
O homem do Vôo Nocturno
P.S Para quem não sabe, o desafio é responder às perguntas com nomes de músicas de um artista que gostemos.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Os 10%
Imaginem que os gestores públicos optavam por carros dez por cento mais baratos e que reduziam as suas dotações de combustível em dez por cento. Imaginem que as suas despesas de representação diminuíam dez por cento também. Que retiravam dez por cento ao que debitam regularmente nos cartões de crédito das empresas. Imaginem ainda que os carros pagos pelo Estado para funções do Estado tinham ESTADO escrito na porta. Imaginem que só eram usados em funções do Estado. Imaginem que dispensavam dez por cento dos assessores e consultores e passavam a utilizar a prata da casa para o serviço público. Imaginem que gastavam dez por cento menos em pacotes de rescisão para quem trabalha e não se quer reformar. Imaginem que os gestores públicos do passado, que são os pensionistas milionários do presente, se inspiravam nisto e aceitavam uma redução de dez por cento nas suas pensões. Em todas as suas pensões. Eles acumulam várias. Não era nada de muito dramático. Ainda ficavam, todos, muito acima dos mil contos por mês. Imaginem que o faziam, por ética ou por vergonha. Imaginem que o faziam por consciência. Imaginem o efeito que isto teria no défice das contas públicas. Imaginem os postos de trabalho que se mantinham e os que se criavam. Imaginem os lugares a aumentar nas faculdades, nas escolas, nas creches e nos lares. Imaginem este dinheiro a ser usado em tribunais para reduzir dez por cento o tempo de espera por uma sentença. Ou no posto de saúde para esperarmos menos dez por cento do tempo por uma consulta ou por uma operação às cataratas. Imaginem remédios dez por cento mais baratos. Imaginem dentistas incluídos no serviço nacional de saúde. Imaginem a segurança que os municípios podiam comprar com esses dinheiros. Imaginem uma Polícia dez por cento mais bem paga, dez por cento mais bem equipada e mais motivada. Imaginem as pensões que se podiam actualizar. Imaginem todo esse dinheiro bem gerido. Imaginem IRC, IRS e IVA a descerem dez por cento também e a economia a soltar-se à velocidade de mais dez por cento em fábricas, lojas, ateliers, teatros, cinemas, estúdios, cafés, restaurantes e jardins.
Imaginem que o inédito acto de gestão de Fernando Pinto, da TAP, de baixar dez por cento as remunerações do seu Conselho de Administração nesta altura de crise na TAP, no país e no Mundo é seguido pelas outras setenta e sete empresas públicas em Portugal. Imaginem que a histórica decisão de Fernando Pinto de reduzir em dez por cento os prémios de gestão, independentemente dos resultados serem bons ou maus, é seguida pelas outras empresas públicas. Imaginem que é seguida por aquelas que distribuem prémios quando dão prejuízo. Imaginem que país podíamos ser se o fizéssemos.
Imaginem que país seremos se não o fizermos."
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Pornografia Infantil, NÃO
O que sabemos é que o esse Eixo passa por estas palavras: angels, lolitas, boylover, preteens, girllover, childlover, pedoboy, boyboy, fetishboy ou feet boy.
São os termos mais usados na pesquisa de pornografia infantil. Hoje a blogosfera adere a uma campanha para trocar as voltas a quem escreve estas palavras nos motores de busca. O objectivo é "entupir os motores de busca com os nossos posts para que no dia de hoje, o dia D, este crime tenha uma barreira a mais".
Para mais esclarecimentos ir a http://margemdeerro.blogspot.com/2008/11/pornografia-infantil-no.html
"Porque os blogs não têm de ser só “diários egocêntricos”.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Suspender a democracia
Na verdade isso da democracia é um empecilho. Livrem-se disso.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Em relação aos protestos dos professores
Primeiro que tudo, há que perceber que a escola não é uma empresa e não pode ser tratada como tal. Mas isso é a minha opinião pessoal.
Os motivos porque me oponho a essa avaliação são vários e bastante bem fundamentados, mas nada originais, e já foram amplamente explicados por muitos especialistas, por isso não os vou repetir.
O que quero dizer a essas pessoas que falam à boca cheia sobre assuntos sobre os quais pouco percebem é: não vos parece bastante arrogante rotular de "preguiçosa" a esmagadora maioria de uma classe trabalhadora completamente heterogénea? Um contestação como esta nunca se viu. O número de manifestantes nas ruas atingiu recordes e desafio-os a encontrar um professor que esteja de acordo com a situação. Não quererá isto dizer que de facto alguma coisa está mal? Talvez devessem parar e escutar. Seria sensato.
sábado, 15 de novembro de 2008
Long time no see
- Olá! Há quanto tempo!
- Pois é! Estás boa?
- Sim, e tu?
- Também
- Está a ser giro o concerto, não está?
(não é nada disto que quero dizer, mas não consigo dizer mais nada)
- Sim, estou à espera de Deolinda.
- Ah, eu também, nunca vi.
(sorrisos, silêncio)
- Estás bem?
(quero mesmo saber se estás bem, quero que saibas que podes contar comigo sempre. Eu sei que às vezes sabe bem falar com alguém de fora, que nos oiça como se fosse a primeira vez. Liga-me um dia destes)
- Sim... Cortaste o cabelo!
- Tu também! Está giro! Não tinha certeza se eras tu, mas estás igual, és inconfundível.
(nunca me esqueci de ti. E claro que vi logo que eras tu, mas tive medo de não saber o que dizer, de parecer insensível, ou de parecer demasidado sensível...)
- Que giro encontrarmo-nos.
- Sim! Bem, vou voltar para ali.
- Beijinhos! Temos combinar qualquer coisa!
- Sim!
Faço figas para que saibam de todas as coisas que não digo mas quero dizer.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Esse facto?
"Esse facto provocará em si alguma falta de autoconfiança. Sentir-se-á particularmente apaixonado."
Ou alguém se enganou no copy/paste, ou o Miguel de Sousa (o astrólogo) referia-se à sandes que comi ao almoço, que de facto me deixou desconfiada.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Ele não gosta nada de sair à noite
Há uma parte em que o jornalista Paulo Moura lhe faz algumas perguntas sobre a imagem que ele tem de homem que anda sempre em festas, facto que ele nega veementemente.
Há uma resposta que achei particularmente hilariante:
O que fez ontem, por exemplo?
Ontem fui conversar com um amigo meu, fomos para ao pé do rio, como faço muitas vezes. Fui ao Piazza di Mare, ao Caffeine. Mas a maior parte das noites não saio [que coincidência ter-me perguntado logo pela única noite em que saí!]. Ao fim-de-semana saio com a pessoa com quem vivo e com os meus filhos. Vou a Sesimbra. Sábado fui almoçar a Serpa. Agora: não me apanham em festa nenhuma. Olhe, sábado tenho uma festa de anos. É uma festa com muita gente, enfim, tenho e ir. [Então mas não tinha dito que nunca o apanhavam em festas?] Mas por mim, não vou. Sei que a minha imagem é ao contrário, mas não há nada a fazer. Agora, se me perguntar: vai a recepções de embaixadas? Não, não vou. No outro dia fui à do Brasil, no dia da independência [Mas afinal, vai ou não vai?]. O embaixador foi muito simpático, disse que gostava muito que eu fosse. E fui [Foi só porque insistiram!]. Nesse dia fui a três cerimónias: essa, a entrega do prémio da Fundação Champalimaud e outra no Espaço Chiado [Para quem não ia a nenhuma...]. Tinha obrigação de ir. Era da sobrinha do rei de Espanha, que eu conheço [tenho amigos na realeza!]. Lançava um produto e convidou-me. Cumpri a minha obrigação e fui-me embora. Porque eu desisti de ir a festas.
Os Amigos
Tal como devemos rever o pódio do filme e da música preferidos, convém fazer updates mentais do/a melhor amigo/a e de quem se encontra na guestlist a que chamamos "os meus amigos".
Um dia disseram-me "nunca se sabe quando vais conhecer um amigo para toda a vida". Nunca mais me esqueci disso. Passei a questionar mais os lugares cativos para a bancada dos super-amigos, para a dos colegas, dos conhecidos, dos mais-ou-menos-amigos (estilo não-lhes-contava-dramas-existênciais). A lista muda e nem sempre é fácil admiti-lo. Damos títulos a quem já passou o prazo de os merecer, e excluímos quem na verdade já faz parte das nossas maiores simpatias. É como quando continuamos a dizer que banda X é a nossa preferida apesar de não a ouvirmos há mais de um ano.
Façam-se updates ousados. Reciclem-se as agendas telefónicas e o speed-dial.
"Nunca se sabe quando vais conhecer um amigo para toda a vida".
Para o Pedro
There's only one song worth singing
They may try and sell you
Cause it hangs them up
To see someone like youuuuuuuuuu
But you gotta make your own kind of music
Sing your own special song
Make your own kind music
Even
if
nobody
else
sings
alooooooooooong
You're gonna be nowhere
The loneliest kind of lonely
It may be rought going
'Cause to do your thing is the hardest things to dooooooooo
But you gotta make your own kind of music
Sing your own special song
Make your own kind music
Even
if
nobody
else
sings
aloooooooooooong
So if you cannot take my hand
(paraparapapapapa)
And if you must be going, I'll understaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaand
You gotta make your own kind of music
Sing your own special song
Make your own kind music
Even
if
nobody
else
sings
alooooooooooooooooooooong
!!!!!!!!
Agora não digas mais que te roubei a música.
domingo, 9 de novembro de 2008
Pequenos ditadores
O problema é quando o pequeno ditador nos testa a paciência diariamente. Aí, meus amigos, o drama é outro. O desafio é conseguir equilibrar entre morder a língua vezes suficiente para não tornar o ambiente insuportável e fazer valer a nossa opinião, para que não nos tome por carneiro.
Podemos imaginar que seremos tão diplomáticos, tão eloquentes, tão compreensivos, que o nosso interlocutor se vai render às evidências. Imaginamos até uma interessante troca e opiniões, em que acabamos bem cotados na escala da consideração. Sim, podemos imaginar isso tudo. Se não nos calhar na rifa um daqueles espécimes que nasceram não com o rei, mas com o imperador na barriga. Só com uma cesariana mesmo.
Ao apercebermo-nos da clareza dos factos, a mente enche-se de notas mentais que apelam à calma, ao estado zen, à mais plácida indiferença. Postura que alterna com piadinhas mentais e ironias cruéis. "A partir de hoje não vou ligar, não vou provocar, não vou responder". Sou o Gandhi cá do sítio.
Mas quando o pequeno ditador exprime barbaridades em catadupa a língua ganha um formigueiro. E há um momento em que pensamos "vou só atirar com esta, mas não respondo a retaliações". Qual quê! Não vão nessa, é o meu conselho. A resposta vem tão rápida que nem vamos ter tempo de evocar imagens de prados e música à "Oceano Pacífico". Quando damos por nós já é tarde demais. As palavras já saíram e são indisciplinadas: indignadas e ofendidas, não querem saber de mais ordens, apenas querem repor a justiça.
Com o caldo entornado, arrependemo-nos. E logo a seguir não, porque era merecido. E logo a seguir sim, porque era dispensável. E logo a seguir não, porque temos que impor respeito. E logo a seguir sim, porque, como todos dizem, "não vale a pena".
O problema é que ignorar os delírios dos pequenos ditadores faz-me sempre sentir que compactuo com eles. Se uma pessoa, digamos, disser "Aqui nunca se vai contratar um preto porque detesto pretos"* e eu não disser nada, sinto-me um verme humano.
O bom senso é uma coisa muito difícil de utilizar.
* frase fictícia, apenas a título de exemplo. Sim, eu conheço os meus leitores, já estavam com ideias.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Machismo
"A liberdade sexual é «para as estrangeiras», porque «uma mulher portuguesa como deve ser não sai com um rapaz sem o conhecer bem, e só sai à noite se o namorado for com ela. Ver um grupo de amigas num bar, à noite, é uma imagem terrível», afirma Ana, juíza de 35 anos, que não sai à noite. «Sou juíza numa cidade pequena e, se me virem por aí, deixam de me respeitar», explica".
De seguida vem a opinião de um homem que diz que «uma rapariga que conhece na noite é para diversão» e não serve para casar.
O artigo centra-se muito, também, nos baixos números de mulheres na política, em cargos altos de empresas ou de professoras universitárias. E claro, no drama da violência doméstica, usando o exemplo de um homem que matou a mulher e teve a pena reduzida para quatro anos por se considerar que tinha havido "violação dos deveres conjugais".
Estas últimas questões são óbvias, infelizmente. Mas é no que toca à "esfera social", onde, diz o artigo, "Portugal exibe um machismo mais preocupante" que as dúvidas me assaltam.
Não acho que socialmente as coisas sejam assim, como no exemplo citado. Se me vierem dizer que o País é mais machista no interior, nas pequenas cidades, até posso acreditar. Desde que não me venham com essa do "País real", porque Lisboa e Porto (e com certeza muitas outras cidades) também são o País real e a minha experiência é tão válida como a de uma senhora em Freixo de Espada à Cinta. Se não se pode dizer que Lisboa representa Portugal, também não se pode dizer que as aldeias rurais é que definem a sua essência.
Com isto não quero dizer que não há machismo. Quando os chamados "homens das obras" gritam "ó boa" (para não estar a dar exemplos menos próprios) e a sociedade aceita isso como sendo uma coisa "normal", isso é machismo do mais nojento. Quando troco de passeio na rua porque sei que vou ser assediada, e entendo isso como parte do dia-a-dia, só posso assumir que o machismo existe.
Mas custa-me entrar naquela conversa muito revoltada, quando nunca senti que uma oportunidade me era vetada por questões de género. Um grupo de amigas num bar, à noite, nunca foi mal visto. Nem raparigas sairem sem o namorado. Nem ficar com má fama por sair à noite. Portugal não é isso. O meu Portugal, pelo menos, não é.
Bom, mas o motivo porque estou a escrever o post é exactamente porque esta questão não é clara. Há demasiadas nuances. O artigo que citei foi escrito, curiosamente, por um jornal espanhol. Não são os espanhóis tão machistas quanto os portugueses? Ainda se fosse um jornal sueco, eu percebia que um enviado especial sentisse um contraste.
Peço a todos que deixem um comentário com a vossa opinião. Principalmente quem mora, morou ou conhece bem a vivência de outros países.
Afinal, somos machistas ou não? E: não serão as próprias portuguesas culpadas de muitas das situações referidas? Não são muitas vezes elas que se afastam de determinadas profissões por considerarem ser "um trabalho de homens"?
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Rescaldos
(...)
Judith Helfand, uma documentarista de Nova Iorque, viajou até Chicago para "viver a história" com os seus novos amigos do Southside, um dos bairros mais desfavorecidos da cidade e onde Obama iniciou a sua carreira de activista comunitário. Judith conhece bem o lugar, onde tem passado dias e dias, na sequência do seu trabalho: um filme sobre a onda de calor que assolou Chicago no Verão de 1995 e que matou 739 pessoas nas zonas pobres da cidade."Vê-los no parque, estes adolescentes de brincos brilhantes nas orelhas, de lágrimas nos olhos, a abraçarem-se de felicidade, a discutirem a distribuição dos votos e os desafios do Presidente e o que eles esperam que seja a América do futuro, reconciliou-me com o meu país", explicava a documentarista. "As implicações disto serão tremendas", continuava. "Há milhões de crianças que vão agora olhar para Obama e identificar-se com ele. Vão ficar mais tempo na escola, vão estar mais envolvidas. Acredito que teremos um país muito melhor no futuro por causa do que fizemos aqui esta noite", terminava.”
Dá um arrepio, não dá?
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
The audacity of hope
Hoje o mundo acordou mais optimista. Os líderes mundiais mais polémicos abriram a porta ao diálogo: Putin, Chavez, Castro, Abbas, Olmert. Vamos começar uma nova era. Deixemo-nos de "bomb bomb bomb". Pode desiludir? Pois pode. Mas porque não ter esperança?
domingo, 2 de novembro de 2008
A grande entrevista a MFL
Não consegui resistir. "Eu não estou a perceber a sua pergunta, palavra de honra".
Parece-me bem a ideia de mergulhar Santana em alcatrão e cobri-lo de penas.
Peixes sem guelra também vivem dentro de água
E nessa altura é tudo mais fácil. Não é que não se notem menos aqueles "problemas". Mas aprendemos a contorná-los e a entrar naquela dança social. Sabemos fazer uma piada amigável com aquela "miúda mimada", dar uma resposta mais certeira ao "rapaz convencido". Aprendemos o ritmo. Sabemos que ir à maquina do café é sinónimo de perguntar se mais alguém quer. Sabemos que a directora se interessa por Sintra, e a colega de trás tem um bebé acabadinho de sair do forno. Alguns vão sendo quase amigos. E os dias passam mais despercebidos, menos alerta. Já não chegamos a casa a amaldiçoar o mundo. Aprendemos as regras.
Às vezes observo pessoas assim, como eu, fora do seu habitat. Fico sempre fascinada como se moldam. Parece que mudam o interruptor quando passam portas. "Modo trabalho", "modo família", "modo namorado", "modo família do namorado", "modo amigos daqui", "modo amigos dali". Lá no meio há uma identidade nossa que convém manter sólida. Que escapa de vez em quando, num suspiro zangado ou numa exclamação entusiasmada fora de contexto. O nosso eu desadaptado a escapar do protocolo.
Lá por sermos peixes debaixo de água não quer dizer que tenhamos guelras.
O fim do sonho americano?
Mas a verdade é que - seja mito ou não - sempre acreditei no sonho americano. Que apesar de tudo os EUA eram ainda um país de oportunidades. Onde o mérito pessoal era apreciado, e onde os forasteiros podiam ser alguém. Viva o melting pot e o self made man. Num qualquer momento de revolta ainda podia pensar "qualquer dia vou para américa e depois vão ver como vão ouvir falar de mim!haha!". Quando leio reportagens atrás de reportagens sobre desemprego, filas para ajuda alimentar, casas ao abandono porque não havia dinheiro para as pagar, cai-me aquela tristeza de estar a presenciar o fim da "terra das oportunidades". Hoje li na Única a seguinte frase de uma portuguesa que vive nos EUA: "Não venham. Para quê deixar o nosso país? Isto já não é a America".
O que é então?
sábado, 1 de novembro de 2008
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
terça-feira, 28 de outubro de 2008
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Para os meus amigos "expatriados"
Se calhar é melhor termos cuidado. Sim, estou a incluir-me.
Porque é que os Estados Unidos devem votar em Obama?
Álvaro Vasconcelos, director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia, in Pública
Porque se Obama vencer há, pelo menos a esperança, de que isto mude.
Para o mundo inteiro, na época actual, acho que a frase vem bem a propósito. Esperemos que alguém pense nela.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Viajar para dentro
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
O casamento C&C
Apesar do racionalismo dizer não, o nosso romantismo todo dizia sim! Atirámos pétalas e brindámos ao futuro. Levámos champanhe para a Torre Eiffel. Um brinde desses só pode dar sorte. Mesmo que os meus pés ardessem de dor e os sapatos salto-alto de verniz passeassem na mão. Acho que até isso deu sorte. Porque no fim, a relva era macia.
sábado, 18 de outubro de 2008
Paris conquistou-me
Paris e a sua cara-postal roubaram-me suspiros. Que cliché gostar de Paris...! Mas como resistir ao Sena, ao quadro encantado que é cada esquina, às lojas, aos cafés tirados do mais perfeito imaginário, à modernidade, ao ar cosmopolita, à agitação deliciosamente permanente das ruas?
Paris conquistou-me.
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
A letra P já significa muita coisa
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Lisboagate, ou a piada-sobre-a-Câmara-de-Lisboa-nos-próximos-seis-meses
"A CUNHA TEM MUITO que se lhe diga. Toda a gente está disposta a condená-la e a apontá-la como uma das causas do atraso de Portugal, mas poucos, na prática, passam sem ela. Se Jesus, em vez de frequentar as terras de Israel, tivesse pregado nas margens do Tejo, teria dito à multidão em fúria: "Quem nunca meteu uma cunha que atire a primeira pedra." E aí todos baixariam a cabeça, começando pelos mais velhos, e iriam apedrejar para outra freguesia. É que a cunha não é um acto de corrupção, como enfiar notas na mão de um autarca. É, de forma bem mais cândida, driblar a máquina burocrática, pedir pequenos favores para o primo que é óptimo rapaz, tentar muitas vezes ajudar quem efectivamente precisa ou, como se diz na minha terra, ter um simples "olhamento".
Mas, claro, de cunhas bem-intencionadas está o inferno cheio. Veja-se o caso "Lisboagate". As primeiras notícias divulgadas pelo DN ainda vinham acompanhadas de um halo de santidade. Os abusos na atribuição de casas pela autarquia eram, afinal, justificados pelas melhores razões: do Presidente da República à esposa do primeiro-ministro, todos metiam cunhas e pediam casas, mas sempre a favor do pobrezinho desamparado. A cunha, boa parte das vezes, não beneficia directamente o próprio e é feita com o argumento de reparar uma injustiça. O problema é que, sem a existência de regras claras e justas, passa a haver uma espécie de fotogenia da pobreza: beneficiam aqueles que melhor comoverem os poderosos. Claro que atrás do pobre vem o motorista do Presidente que mora longe, coitado, e atrás do motorista vem a funcionária que se divorciou e não tem para onde ir, e atrás da funcionária vem o filho da funcionária, que também é filho de Deus.
A partir daí, nessa avalanche de cunhas e favores cabe tudo, e tudo se mistura. Quando o caso "Lisboagate" atinge um nome como o de Baptista-Bastos, é porque algo está podre no reino da Dinamarca. Numa breve troca de mails, Baptista-Bastos negou-me ter tido qualquer comportamento "reprovável" e eu não tenho qualquer razão para pôr em causa a sua verticalidade. Mas também não tenho dúvidas de que ele jamais deveria ter recorrido à câmara para conseguir uma casa. O escritor Baptista-Bastos, que já tanto deu a Lisboa, podia ter direito a ser ajudado numa altura de dificuldade, como parece ter sido o caso. O jornalista Baptista-Bastos, não. Porque pediu um favor ao poder autárquico. Porque auferiu de um privilégio vedado ao cidadão comum. Que alguém que sempre foi tão moralmente exigente nos seus artigos de imprensa não perceba isto faz-me confusão. Quem, como ele, acredita na nobreza do jornalismo, tem de reconhecer uma cunha quando a vê. E, sobretudo, deve reconhecê-la quando a mete".
A confusão que pode ser um filme com o formato de reportagem do 60 minutos (ou semelhantes)
Ainda estou a digerir aquela coisa do “gostei” ou “não gostei”. Inclino-me mais para a primeira, mas quando o processo terminar dou o veredicto.
Quando as luzes da sala vip do Amoreiras acenderam o Pedro olhou para mim e disse “Coitado do Bush”. É verdade, até eu tive pena do Bush, com os manifestantes a lançar palavras de puro ódio, e principalmente porque – isto já nem sequer pode ser considerado spoiler – o homem morre. Dão-lhe um tiro. Pumbas, e morre mesmo.
À saída do filme discutimos brevemente se era ou não anti-Bush. Eu disse que não.
Quando cheguei a casa achei que se calhar era. Já lá vou.
O curioso do filme é estar feito naquele estilo documental de facto –> testemunha –> facto. Fala a “escrevedora de discursos”, fala o segurança, fala o FBI, fala o veterano de guerra, a mãe dele, o manifestante, a mulher do suspeito. Tal e qual como nas produções que assisto na SIC Notícias. Não fosse um aviso no início do filme, eu duvidava. E depois são as imagens reais do Bush, é mesmo ele ali às voltas a fazer discursos e cumprimentar pessoas.
O segurança treme o queixo ao relembrar o tiro que mata o presidente. Seguem-se elogios à pessoa, ao seu espírito de liderança e sabedoria.
No entanto, não sei bem se é mesmo essa a mensagem que fica. Porque disso já estávamos à espera. Bom, também estávamos à espera que prendessem um muçulmano como suspeito. No entanto há momentos no filme em que também nós achamos que ele era culpado. Mas afinal não era. Mas continua preso, continua acusado.
Apesar de nessa altura o presidente já estar bem morto, é possível dizer que o filme é anti-Bush. Não porque prenderam o homem errado, mas porque manipularam a opinião pública tornando-o irreversivelmente culpado, quando ainda não havia certezas.
Porque – spoilers! – o verdadeiro assassino é um ex-veterano de guerra para quem todo o sentido da vida residia em defender o seu país, lutar por uma causa nobre e honesta. Esse mesmo veterano perde o filho no Iraque, e perde também o orgulho naquela missão. Não há armas de destruição massiva, o Iraque é um palco de chacina onde os americanos não são anjos, mas demónios. Digo que é anti-Bush porque rói as bases. O homem que deu a vida à pátria culpa Bush pela corrupção do país, não vê outra solução senão matá-lo e matar-se a si depois.
Contra isto não discurso comovente que resista.
O príncipe encantado que era preto
Ainda não tinha dado conta de uma dessas produções da TVI abordar o tema do racismo no casal central. Se calhar até já aconteceu, mas eu nunca vi.
Pois bem, ontem reforcei aquela ideia, que tanta polémica deu num post passado, de que as novelas pecam pela mediocridade da mensagem.
Então aquilo era assim: jovenzinha leva o namorado para jantar em casa dos pais, para o apresentar. O rapaz é preto. O pai passa o jantar a resmungar e chega a ser mal-educado. Quando o rapaz se vai embora gera-se uma discussão pai-filha.
O que me chateou – e que me fez concluir que afinal a novela estava a ser mesmo racista – foi que o dito rapaz era PERFEITO. Estudante de direito na clássica, óptimas novas, lindo de morrer (sem margem para a subjectividade), bem vestido, muito educado, muito bem falante, muito apaixonado, muito compreensivo. A discussão subliminar é: pai, podes desculpar o facto de ele ser preto porque não tem mais defeitos. Tinham que fazer o rapaz impecável ou a cor da pele já seria demais. Não podia ser preto e desempregado, ou preto e um bocado rebelde. Isso desclassificava-o. Esses defeitos os pais só aturam aos namorados das filhas que são branquinhos.
Agora o Rogério Samora que se desenrasque com esta batata quente.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Eu tenho medo da Helena Roseta
No ano passado estava a estagiar na Renascença quando foram as intercalares. Gostava da Helena Roseta, decidi que votava nela (sim, eu decido estas coisas). Depois, quando ela perdeu e o BE se coligou com o executivo, mandaram-me ligar-lhe para obter uma reacção. Liguei duas vezes sem sucesso, Tocava, tocava e nada. Enquanto esperava, entre a segunda e a terceira tentativa que nunca chegou a acontecer, a senhora da recepção sobe à redacção e pergunta “Quem é que tentou ligar à Helena Roseta?”. “Eu. Porquê?”. Bom, ao que parece a senhora ligou para lá e berrou até cair, sobre o facto de não pararmos de insistir nos telefonemas. Agradeci aos céus não me ter atendido…
Meses passados voltei a simpatizar com ela. Agora que trabalho na Grande Lisboa (secção do jornal, leia-se) recebo muitas propostas interessantes dos Cidadãos por Lisboa e volto a achá-la competente. Hoje voltei a ligar-lhe. Quando me preparava para marcar o número tive um arrepio. “Aposto que ela me vai tratar mal”, disse à minha editora. Ela riu-se e disse “claro que não”. Claro que sim. Ela é mesmo antipática e repete expressões como “oiça, eu não sei….”, “oiça, você sabe que…”. Mesmo assim a coisa ia normal. Perguntei o que tinha a perguntar. E depois… achei que devia arriscar e questioná-la sobre uma candidatura à Câmara. Big mistake. Como calculei que não me responderia, e não quis ser mal-educada, decidi fazer uma graça e disse: “Vou-lhe perguntar uma coisa mas não sei se me vai querer responder. Mas vou tentar”. Usei o tom mais amigável possível. Esperava uma gargalhada, um “então vá lá”. Levei uma descompostura. “Isto não é um concurso onde dá tiros no escuro para ver se eu caio. Não gosto de ser tratada assim”. Oh não… ela voltou a maltratar-me. Por acaso até me respondeu, mas desliguei o telefone com um sabor amargo na boca.
Continuo a achar que a Helena Roseta é competente, mas agora ainda tenho mais medo dela.
"Agora não, que falta um impresso"
sábado, 4 de outubro de 2008
O homem que queria salvar a humanidade
“Vou estar com uma camisola verde, um casaco verde e uma pasta preta na mão. Ninguém tem pastas pretas, por isso vai ser fácil. Sou careca e tenho olhos azuis”.
Os contornos deste caso fazem lembrar um filme de detectives. Gabriel Pina é o informador, o Ponto do i um agente infiltrado.
“Acredito que possa estar até a correr risco de vida”. A conversa decorre na sala de visitas do estabelecimento prisional de Pinheiro da Cruz, onde Gabriel Pina está preso desde 2004 por posse de haxixe. O barulho quase ensurdecedor das famílias em conversas animadas, obriga Gabriel a falar-nos quase ao ouvido, o que torna tudo ainda mais fílmico.
O motivo de todo este mistério? Uma invenção da autoria de Gabriel Pina e que o próprio considera “revolucionária” e de “imenso interesse público”. O invento que criou ainda antes de ser preso (já tinha sido condenado, mas encontrava-se em situação de foragido – mais um elemento deste filme de acção) vem ao encontro das actuais preocupações ambientais: uma máquina que produz electricidade limpa, gratuita e não poluente, à semelhança de um aerogerador, mas que não está dependente do vento. Aliás, “não está dependente de nada”. Ou melhor, está, mas a fonte de energia não é nenhuma das tradicionais, nem o ar, nem o sol, nem as ondas.
Gabriel Pina mantém a fonte de energia desta invenção em segredo, porque “bastava revelá-la para que qualquer pessoa pudesse fazê-lo” e poderia perder os direitos sobre a sua máquina (chamemos-lhe assim, já que ainda não tem nome).
Tudo começou numa tarde de sofá. Desde sempre que Gabriel se interessou por engenhos, desmontava as bicicletas e as motas para lhes perceber o funcionamento. “Sempre me interessei por tecnologias”, conta. E foi no sofá que começou a magicar uma forma de construir um carro especialmente para idosos. Teria que ser muito económico já que a classe etária não é das mais endinheiradas.
Conseguiu chegar a uma alternativa energética “a custo zero”. A chave, explica, é o Movimento Perpétuo. O moto contínuo sempre foi uma quimera perseguida pelos físicos – uma máquina que reutilizaria infinitamente a energia gerada pelo seu próprio movimento – mas Gabriel Pina acredita que desvendou o mistério.
O processo, explica, é simples, não reside tanto no engenho, mas na ideia. “Eu próprio fico admirado como ninguém inventou isto”.
Desde que foi preso, Gabriel tem pedido indultos ao Presidente da República todos os anos, mas todos lhe foram negados. Escreveu a tribunais, jornalistas e políticos. Guarda, ainda um bilhete escrito à mão por Francisco Louçã, que se demonstra sensibilizado com a situação e promete: “logo que possível visitarei Pinheiro da Cruz”. Isto passou-se em 2005, mas até agora o bloquista ainda não apareceu.
“Não percebo como é que o Jorge Sampaio deu indulto a um homem que matou sete pessoas e não me dá a mim”. A questão, explica, é de interesse público e “compete ao estado ouvir todas as pessoas, todas as hipóteses”.
Gabriel ainda não entrou com um pedido de patente, porque desconfia da honestidade do sistema. Para registar uma patente em Portugal, é preciso enviar uma descrição do invento para o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), acompanhada por um desenho técnico, elaborado por um desenhador. Ora Gabriel acredita que o seu invento terá tal impacto, que o desenhador, ao ter acesso ao mecanismo, poderá tentar roubá-lo.
Para além disso, Gabriel não confia nas próprias regras do INPI e receia perder direitos sobre o seu invento. “Ninguém vai fazer uma falcatrua com um laboratório, mas eu sou apenas um cidadão anónimo”. Por isso, espera poder levar a sua máquina a uma feira de inventos, o que fará com que a sua criação tenha prioridade de entrada no INPI e, acredita Gabriel, esteja mais segura contra roubos.
“Mas alguma vez ouviu falar de um roubo de patente?”, perguntamos-lhe. “Toda a gente me pergunta isso”, responde. E devolve-nos a pergunta: “E já alguma vez ouviu falar do registo de algum invento mesmo importante em Portugal?”.
Por agora, Gabriel só pode esperar, mas promete que quando sair da prisão irá processar por negligência todas as pessoas do estabelecimento prisional que não lhe têm dado credibilidade: “Pensam que uma pessoa que está presa tem que ser um anormal”.
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Métodos contraceptivos negam «verdade do amor conjugal», diz Bento XVI
O Vaticano condena a utilização de qualquer método para o controlo da natalidade. A posição é expressa num texto, assinado pelo Papa, hoje distribuído pelo serviço de imprensa da Santa Sé.
A única excepção admitida é a abstinência, mas mesmo neste caso a Igreja Católica advoga que apenas deve ser um recurso para casais que atravessem dificuldades graves".
Se o chefe máximo da Igreja diz estas coisas, conclui-se que pouco sabe sobre amor. Não há mesmo condições para ser católico.
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Isto é racismo
Reparem que uma das ovelhas diz "multiculturalismo", como se fosse um factor negativo, a par com a "criminalidade" ou os "salários baixos"
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Confissões de uma jornalista verdinha
Atenção, aquele senhor não é "civil", é "importante", não faças essas perguntas da treta. Pensa outside the box. Acho que não consegui.
E o ambiente? Estarei a captar um ângulo original? Não me parece...
Relógio. Bem, já são horas de ir andando.
Oh não, tão pouco espaço! Vamos a isso. Como é que vou meter tudo isto aqui?? Tem que ser. Vamos a tópicos. Acabou-se o espaço e falta abordar três tópicos. Vou cortar, falo de cada assunto mais ao de leve. Está mesmo leve. Demais. Não estará telegráfico?
Agora o título. Vá, já és crescida, faz uma piadinha, um trocadilho, tu és capaz. Bolas, fica uma palavra de fora. Encolhe o espaçamento. Não dá mais. Muda a frase.
Relê. Ficou uma tanga, uma frase para cada fonte. Bem, ao menos houve fonte...
Mostra à editora, talvez te dê mais uma coluna hoje... Não? Está óptimo assim? Mas... ok.
Amanhã há mais.
terça-feira, 30 de setembro de 2008
O charme do Paper Cup*
Infelizmente este primeiro é num centro comercial, mas já está pensado um café de rua em Belém, até ao fim do ano, e vários outros no futuro.
O meu entusiasmo é facilmente explicável: são anos e anos de filmes, de séries, de anúncios, de fotografias, enfim… daquela imagem romanceada de uma qualquer Nova Iorque ou Londres, em que as pessoas transportam cafés pela rua. O meu imaginário alterna entre o ritmo apressado das cidades – há sempre um café na mão quando as duas personagens chocam uma com a outra na rua e se apaixonam (“ai desculpe, sujei-a!”) – e o passeio melancólico e pensativo por paisagens de neve.
Starbucks lembra frio, claro. Tem o charme irresistível do inverno. O copo alto e fumegante que aquece as mãos geladas. Engolir aquele líquido familiar que nos aquece o esófago e tantas vezes a alma.
Hoje bebi um frappuccino de caramelo, que ainda faz calor e apetece um refresco.
Mal posso esperar pelo frio.
*Em Portugal adoptou-se a política de servir os cafés em loiça (chávenas e canecas muito catitas!), para ir de encontro à nossa tradição. Só os cafés que são para levar é que vêm nos “paper cups”.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
O pé de cinco anos
“- Comecei a escrever por causa do Mickey Mouse, do Flash Gordon, do Sandokan, aos cinco.
Até que, por falar em cinco anos, e quase de repente, contou do hospital de crianças cancerosas onde trabalhou depois de voltar da guerra de Angola e de como nesse hospital se zangou com Deus, apesar de não ser um homem religioso. Estava lá um miúdo de cinco anos com leucemia, muito bonito, de olhos grandes e, na sua opinião, Deus não tem o direito de pôr uma criança a gritar por morfina. O rapaz morreu e vieram dois homens com uma maca, mas como o morto era muito pequeno, bastou um homem enrolá-lo num lençol e levá-lo ao colo pelo corredor, mas um pé da criança saiu do lençol e ele viu o pé afastar-se, balançando no ar.
- Nesse dia decidi: vou escrever para aquele pé.
Talvez já tenham visto uma plateia de nova-iorquinos, professores, académicos, leitores, intelectuais, as pessoas mais cosmopolitas do mundo, a engasgarem-se nas próprias salivas silenciosas”.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Coisas que não percebo
Silêncio dos meus colegas que costumam comentar avidamente programas televisivos.
Uns 30 segundos passados: “Não é assim tão mau, há perguntas piores. Além disso, não quer dizer que ele tenha um pénis pequeno, pode apenas ser ganancioso”, respondem.
“Mas a questão não é essa!” – digo – “O facto de perguntarem isso num programa de televisão e lhe darem dinheiro pela resposta é, no mínimo, aberrante!! Ou não?”
Silêncio. Encolhem os ombros.
Não percebo.
sábado, 20 de setembro de 2008
Um dos livros/ filmes que mais me marcou nos últimos tempos
Comes the morning
When I can feel
That there's nothing left to be concealed
Moving on a scene surreal
No, my heart will never, will never be far from here
Sure as I am breathing
Sure as I'm sad
I'll keep this wisdom in my flesh
I leave here believing more than I had
And there's a reason I'll be, a reason I'll be back
As I walk the hemisphere
I got my wish to up and disappear
I've been wounded, I've been healed
Now for landing I've been, for landing I've been cleared
Sure as I am breathing
Sure as I'm sad
I'll keep this wisdom in my flesh
I leave here believing more than I had
This love has got no ceiling
Eddie Vedder
A Boa
"A boa" da escola não é nada boa. Está gorda, tem um nariz adunco horrível e uns dentes da frente tortos, grandes e saídos. Olhando para trás, ela já era assim no 9º ano. Menos gorda, mas também não tinha tido um filho.
Não me levem a mal, não tenho nadinha contra ela, sempre foi muito simpática comigo, aliás, com a generalidade das pessoas. Se falo assim dela é só porque constato que na escola o conceito de "boa" é distorcido. Como quase tudo na escola.
O que a fazia "boa" na escola eram as suas roupas justas (se bem que hoje em dia talvez não fossem assim tão justas...), a sua atitude de "comigo ninguém se mete", tão diferente de nós, que tínhamos que pedir autorização à mamã para fazer tudo. Era como falava de adultices, tinha namorados "a sério" (ou seja, dormia com ele), com um aspecto mauzão, tinha resposta na ponta da língua. Era como andava, como se inclinava quando ia ao quadro. Lembro-me claramente desses momentos em que os rapazes cochichavam e riam baixinho enquanto ela escrevia, ainda com giz.
Nunca duvidei que ela fosse "boa". Era assim. Talvez houvessem raparigas mais giras, mas ela era "boa" e acabou. Na escola havia imensas verdades inquestionáveis. Se não gostávamos da discoteca da moda, havia claramente algum problema connosco. Isso e muitas outras coisas.
Agora que a vi "a boa" na loja das fotografias, penso que não tenho mesmo saudades nenhumas da escola. No entanto, tenho que admitir que era uma época que, apesar de nada fácil, era simples, bastava seguir as regras. As amigas, quando decidíamos que eram amigas, eram para sempre. Nunca duvidávamos da validade das amizades. Da mesma forma que não duvidávamos que a "boa" era boa, apesar de ser feia.
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
domingo, 14 de setembro de 2008
Para quem ainda não percebeu porque é que eu quero ir para Inglaterra
Sim, University of Westminster, eu quero. Fazes-me um desconto?
O Post do Desassossego
Nunca pensei em mim própria como uma pessoa desassossegada, apesar de achar que sim, é capaz de ser verdade.
Seguiu-se uma longa conversa sobre as pessoas que nascem com um sossego interior, que são felizes onde estão e com aquilo que constroem, e as outras. Era eu, portanto.
Não percebi bem se esta característica me foi atribuída como elogio ou não. O desassossego sempre fez as pessoas infelizes, pensei. Mas também lhes deu o impulso para criar vidas mais cheias, mais felizes, mais coloridas.
Por outro lado... o desassossego, esse que parece que tenho, não garante aventuras, não garante riscos, não garante idas sem voltas marcadas. Só garante uma vontade enorme que assim seja.
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Sarah Palin
sábado, 6 de setembro de 2008
Au Revoir é até breve
Assim de uma assentada vão todas embora. As despedidas já são o meu forte (mais ou menos).
Nos últimos anos aprendi que o mundo é bem mais pequeno do que parece e que nada é definitivo. Não é como quando mudávamos de escola e deixávamos os amigos para trás, porque parecia incomportável uma amizade sem o mesmo recreio.
Agora somos mais habilitados e sabemos como desmultiplicar o tempo e encolher o espaço.
Os dias passam entre preparativos, depois da emoção das etapas vencidas. É divertido. Mas depois chegam os autocarros e os comboios, eu encosto a cabeça no vidro e pronto - o que é que posso fazer? - penso. De uma maneira fraca, sentimental, filosofante. É um perigo.
Desta mistura sai um bolo de entusiasmo, de previsões futurológicas de sucesso, juntamente com uma nostalgia antecipada e uma leve melancolia solitária.
Dou-me conta do quanto confio nos seus conselhos, de como busco a sua companhia num dia mais desanimado. De como são o ingrediente perfeito para o "nada que fazer". Para um café solarengo, ou tardio. Para uma daquelas muitas mensagens de telemóvel "só porque sim", porque preciso de dizer esta ideia a alguém. De como me interesso pelas suas histórias, de como peço actualizações para me certificar que tudo está bem. Dou-me conta que de uma vez só vão-se as aventuras inusitadas, as fofocas mal intencionadas, as toalhas de praia e os mergulhos nada ousados. As indecisões profissionais, o maldizer dos colegas, o entusiasmo que se pode partilhar por uma folha de jornal.
A vida continua, sim. Mas com menos graça.
domingo, 31 de agosto de 2008
Telefonemas
Vamos fazer planos, vamos marcar datas no calendário, por favor - peço em jeito queixinhas da vida. Ele diz que vamos, com certeza. Mas nunca chegamos a um consenso. O mundo é grande demais para os projectos desmedidos. Somos desorganizados, sem metodologia, sem rumo. Somos anti-rumo. Anti-pó.
O mapa aberto leva dedadas consecutivas. Vá lá, ajuda-me a escolher. Espanha, França, Inglaterra, Escócia, Irlanda, Estados Unidos, sim, Austrália.Tantos outros, porque não?
As conversas acabam num suspiro, aquele grito abafado. Seguem-se os discursos revoltados, as frases amargas de velho que desperdiçou a vida a vê-la passar.
Trinca a língua com força, faz um sorriso. É tudo nosso. Pensa já na mala, a mala é o primeiro passo. Depois ensaia uma língua, paga um curso, lê uns livros, pesquisa na internet.
Pensa no que te faz falta. Está onde?
Quando encontrar, vens comigo?
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Cafés alheios
Impensável mas divertido.
Good blogs - teremos hipótese?
Este é o primeiro ponto de uma lista de nove factores que Merlin Mann considera que fazem um Blog interessante. Para ler as outras oito (giras, giras...) é só clicar aqui: http://www.43folders.com/2008/08/19/good-blogs
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
A minha atenção é automaticamente desviada do assunto central e dou por mim a imaginar o José Milhazes a conversar “descontraidamente” em russo, num qualquer café de Moscovo, sobre a independência da Ossétia do Sul.
A ideia de uma conversa de café descontraída em russo sobre a guerra é tão bizarra que chega a ser divertida. Bom, isso e o José Milhazes.
sábado, 23 de agosto de 2008
Poema em linha recta
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Por isso, deixem-me dizer mal da Margarida Rebelo Pinto, mesmo que "ponha as pessoas a ler" e seja "muito boa pessoa". Deixem-me "ser snob" e dizer que as novelas da TVI me causam asco, sendo os Morangos com Açúcar uma categoria à parte, classificada (por mim, claro...) como o programa mais medíocre e imbecil que por aí se oferece às jovens mentes.
Pronto, já está.
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Irritada fico eu com estas coisas. Até gosto da senhora e por isso fui-me embora a morder a língua. Estamos a fechar o jornal, não se arranjem confusões.
Mas a verdade é que cada vez que alguém diz destas coisas eu – que tanta fé tenho na Humanidade – acredito um bocadinho menos no futuro, na Paz, e no entendimento entre os povos.
As casas de férias dos outros
Aliás, a ideia de passar férias, ano após ano, no mesmo local provoca-me um monumental bocejo. Qual é que pode ser o interesse disso? Concedendo a excepção às pessoas que vivem noutro país e regressam em visita, não vejo a quem mais possa interessar. Para mim férias (fora de casa) tem que equivaler a novo, a descoberta. Voltar todos os anos para o mesmo, frequentar os mesmos locais, ver as mesmas pessoas… ná! Investir balúrdios numa casa de férias, ao preço que está o low cost parece-me mesmo disparatado. Mesmo em Portugal, há tantos sítios giros para se ir ver.
Não me levem a mal os amantes da “terrinha”. Digo isto sem maldade, tenho noção que essa coisa do “meu cantinho” é um sentimento verdadeiro e forte e que se eu não o tenho, provavelmente até estou a perder com isso.
Gosto de traçar percursos novos, com mapa na mão, fazer pesquisas de preços na internet, buscar. Uma vez ou outra gosto de repetir o local, mas porque ficou alguma coisa por ver, por fazer, por experimentar.
Casas de férias, as que eu gosto mesmo, são as dos outros.
As histórias permanecem, e permanece um carinho imenso por aqueles dias prazenteiros, divertidos e cúmplices. Por vezes um filme, um anúncio, um restaurante, um livro, uma notícia, e surge o alerta “Pessoa X havia de gostar de saber disto”. Ás vezes manda-se um e-mail, uma mensagem, outras não. Parece forçado.
Sempre tive inveja de quem mantém amizades longínquas fortes. Deixo-as apagar. Não consigo manter-lhes o brilho. Mas ficam as saudades, verdadeiras, sinceras. Mas não consigo telefonar, fico sem nada para dizer. Os e-mails que eram tão longos são cada vez mais curtos. Ganha-se uma certa cerimónia, uma distância.
Fica uma nostalgia misturada com o medo de nada voltar a ser igual. Suspiro.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
A nacionalidade dos mortos
O fenómeno já foi estudado e está legitimado. Aprendemo-lo na faculdade. Proximidade, dizem, faz parte dos valores notícia. Mas eu digo que há excepções para essa regra.
Perante o cenário aterrorizante do tsunami, metade da cobertura dedicou-se a colocar hipóteses rebuscadas sobre um português que talvez tenha ido lá passar férias.
A história repete-se sempre. Mais uma vez, agora com o acidente em Madrid, pelo menos cem mortos e já oiço o burburinho “De certeza que há portugueses”. Se as pessoas em questão tivessem familiares ou amigos a viajar para as Canárias, aí eu percebia. Agora assim… Parece que tudo respira de alívio quando não há portugueses.
Acho desprezível, miserável mesmo. Ora então, a morte de mil indonésios ou 90 espanhóis pouca mossa faz, o que importa é o compatriota desconhecido. Portanto, a vida humana tem mais ou menos valor consoante a nacionalidade das vítimas. Sinto mais a morte de alguém porque mora no mesmo país que eu? Que raio de lógica é essa?
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Pedro Mexia
Lembro-me de o ver num debate de "É a cultura, estúpido!", no S. Luiz, no Eixo do Mal, aqui e ali nos jornais, lançamentos de livros, discussões filosóficas. Nunca percebi qual era, de facto, a sua profissão. Para mim era um intelectual profissional. Um luxo, sempre pensei, já que se dedicava ao que gostava, ganhava assim a vida, coisa difícil para quem não se debruça em temas que agradam às massas.
Depois passei pelo Público. Quando me mudei para o terceiro andar passei a vê-lo praticamente todos os dias, lá no cantinho do Ípsilon. Dava por mim a espreitá-lo, como uma relíquia, uma celebridade. Um dia cheguei mesmo a levantar-me uns dois palmos do assento, com as mãos apoiadas nos braços da cadeira. Fiquei assim suspensa uns segundos a observá-lo. Ele era tão estranho.
Depois veio o blog, que comecei a ler com mais frequência. Saltava vários posts dedicados a cineastas e escritores com nomes complicados e desconhecidos. Havia ainda muitos sobre mulheres bonitas. E depois os outros, com uma piada enigmática interessante.
O homem interessava-me, quase como uma espécie rara. Vê-lo ali na cadeira, a escrever... Era estranho no seu aspecto nem novo nem velho, gordito, pouco cabelo, mas inesperadamente loiro. Tinha um ar de rato de biblioteca sarcástico. Um anti-social extremamente divertido. Perversamente inteligente. Prepotentemente culto. Adoravelmente desajeitado.
Era estranho.
E por fim chegou o livro de crónicas, como prenda de anos. Um livro de crónicas é muitíssimo perigoso. Se por ler uma crónica semanal, já me sinto próxima do autor, ler um livro inteiro de crónicas dá-me a ilusão de lhe conhecer a alma. É praticamente família. Claro que nem todas as crónicas têm esta capacidade; as crónicas da Teresa de Sousa dizem-me tanto sobre ela como sobre o porquinho-da-índia do meu vizinho de cima. Mas as do Pedro Mexia são um verdadeiro travar de amizade: ele fala dos vizinhos, dos amigos, dos cafés, dos cinemas, dos serões solitários, do seu peso, das namoradas, dos vícios. É como se fosse amigo de longa data, daqueles que já nem sabemos bem porque é que somos amigos. Rolo os olhos com o desfiar de autores alemães ou franceses, as citações estilo "se você nunca ouviu isto é porque deve ser uma abécula cultural". Mas depois... ele gosta de água tónica e quando era adolescente ia à Feira Popular. As tiradas hilariantes, o humor impecável, certeiro. A honestidade quase cruel como se desenha a si próprio. Afinal, não é assim tão snob. O homem gosta dos seus livros, deixem-no estar.
Continuo a achá-lo estranho. Mas sabem como é: primeiro estranha-se, depois entranha-se.