segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Tal como um elefante

"O elefante, já lho disse no outro dia, é outra coisa, em um elefante há dois elefantes, um que aprende o que se lhe ensina e outro que persistirá em ignorar tudo, Como sabes tu isso, Descobri que sou tal qual o elefante, uma parte de mim aprende, a outra ignora o que a outra parte aprendeu, e tanto mais vai ignorando que quanto mais vai vivendo, Não sou capaz de te seguir nesses jogos de palavras, Não sou eu quem joga com as palavras, são elas que jogam comigo"

José Saramago, in Viagem do Elefante

EUA são sexy

No outro dia na aula de espanhol calhou falarmos de política. Conversa puxa conversa percebi que a piquena que está connosco a ter aulas não sabia a diferença entre esquerda e direita. Não achei uma escandaleira porque ela só tem 16 ou 17 e é uma miúda esperta e interessada. Assim em versão resumida expliquei-lhe que partidos existiam e quais as principais diferenças entre as duas alas. No final da explicação ela exclamou: "Ah, como os republicanos e os democratas?". Depois de uns pisca olhos meio incrédulos lá respondi que sim, mais ou menos.
Agora, desde quando é que se aprendem as especificidades políticas de outros países antes do nosso? Definitivamente os EUA são bem mais sexys* que Portugal.

*Obrigado Bárbara Reis, depois de ti percebi que há todo um leque de palavras que se podem conotar com este adjectivo - depois de um lead sexy, tudo pode ser sexy.

Pára tudo!!

Os Operários do Natal estão na net: http://operariosdonatal.com.sapo.pt/menu.html

Estou em puro êxtase! "Porque quando nasce um menino é Natal!"
É a coisa mai linda de sempre! "Amanhã serás operário do Natal de outro meninoooo" (isto quer dizer que seremos pais, para os mais distraídos)
"Fomos feitos pelos pais, não viemos da cegonha" lá lá lá

O lenhador é mal pago e o Natal da costureira "é só trabalhar" - mas se deres um beijinho à tua boneca "é como se desses um beijo a esta costureira que transformou trabalho em bonecos e carinho". O carteiro "leva e traz um saco de amizade", o palhaço "com o riso come e dorme" - "num palhaço que se ri há sempre um homem que chora" - , o pasteleiro "de barrete branco e grande barriga, sempre de faces coradas a fritar as rabanadas" e os vendedores de brinquedos "não têm mãos a medir, ficam com as mãos dormentes enquanto há mãos a pedir". No final contam-nos que os sete operários do Natal são nossos amigos, "tão amigos como os teus companheiros de escola, tão amigos como os teus irmãos, tão amigos como quem te dá presentes no Natal" - "Cada operário que trabalha para que tu possas ter um bom Natal te dá um presente: o presente da canseira, o presente do trabalho, o presente da amizade".
E aqui chega a minha preferida: Os Amigos!

Quem faz o Natal para todos nós? São os amigos!
Quem nos dá prazer e dá calor? São os amigos!
A quem é que damos a ternura? É aos amigos!
A quem é que damos o melhor? É aos amigos!

Os amigos são o nosso bolo de Natal
Cada amigo nosso vale mais que um Pai Natal
É um irmão nosso que trabalha no Natal
E com suas mãos faz a diferença do Natal

O dinheiro pouco importa
O que importa é a verdade
E a prenda mais valiosa
É a prenda da amizade

Quem faz das tristezas forças
E das forças alegrias
Constrói à força de Amor
Um Natal todos os dias.

Isto é tão politicamente incorrecto hoje em dia que só dá vontade de rir - mas rir da forma mais ternurenta e entusiasta possível, porque eu cá estou nas sete quintas. Aconselho vivamente até para quem não conhece. É delicioso!

Tenho entretém para a noite.

domingo, 28 de dezembro de 2008

A questão que já todos pusemos

"Que importância se dá em Portugal ao bem estar, à qualidade de vida, a uma coisa tão simples como o conforto? Posso responder: todos os dias passa aqui na rua a minha vizinha aposentada, solitária, que se desloca com a ajuda de duas muletas, penosamente evitando os carros — muitas vezes o meu — estacionados em cima dos passeios do bairro. Poderia ser a outra vizinha com o carrinho de bébé, ou um deficiente. Como querem que não sejamos infelizes se somos um país desconfortável, mal planeado, pouco cuidado?

Em finais dos anos 90 ia todas as semanas à aldeia dos meus pais um professor de pintura. Os velhotes encontravam-se, faziam exposições, — estavam felizes. Mas isso era evidentemente um luxo, uma loucura “guterrista”, uma fantasia capaz de nos levar à falência (como dez estádios de futebol? ou como salvar bancos de investimento?). Não, não podemos. Em Portugal o que é civilizado é deixar os velhos abandonados e desocupados no fim das suas vidas.

Em Portugal, dizem-nos, não há dinheiro para os grandes projectos. Então e os pequenos projectos — arranjar as calçadas, cuidar dos jardins, melhorar o transporte urbano, pintar prédios, cuidar de aldeias, criar bibliotecas, manter museus abertos, fazer desporto amador, pôr creches no local de trabalho? Sim, eu sei. É tudo poesia. Peço desculpa por falar nisto."

Rui Tavares

sábado, 27 de dezembro de 2008

Natais passados

Hoje descobri que algo de profundo me une ao Nuno Markl: Os operários do Natal.



Sem dúvida o vinil da minha infância. Num encadear de músicas, várias personagens explicam porque é que a sua profissão é importante para que o Natal funcione.
A análise de Markl (sim, ele faz análises) era coisa que nunca me tinha passado pela cabeça. Isto acontece-me muitas vezes. É como a Anita ou aquele amigo de infância que toda a gente percebe que é gay. É que guardo dessas coisas a memória de quando era demasiado pequena para perceber 75% do mundo. E como não mexo mais nelas, a memória assim fica.
Por isso nunca pensei que "Os operários do Natal" fosse uma coisa de esquerda(duuuhhh! bastava o título). Aliás, nem sequer sabia que era cantando por Carlos Mendes, Fernando Tordo e Paulo de Carvalho, com letras de Ary dos Santos (isso talvez tivesse ajudado). A única coisa que saberia dizer é que o carteiro era o meu preferido e que Natal não era Natal sem este disco, logo a seguir ao coro de Santo Amaro de Oeiras (a que Markl também faz referência), cuja capa eram dezenas de Pais Natal a cantar numa pose engraçada. Se tudo isto também vos traz recordações, espreitem o post do meu conterrâneo: http://havidaemmarkl.blogs.sapo.pt/412423.html

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Provavelmente, não, seguramente.

Quem diz mal dos blogues que morra já atropelado. Passado a ferro pelo remorso.
Que os blogues são um arquivo de nós próprios, das nossas lutas, das nossas esperanças, das nossas preocupações. Diários disfarçados de crónica de jornal, entre o sério e o sentimental.
Hoje a dúvida persistiu com mais força e vagueei pela blogosfera em busca de um cobertor. Os cliques rebuscaram nos anos, nos meses, e em Outubro de 2007 encontrei a minha lágrima no canto do olho e sorriso amolecido. Sim, já passou um ano, mas eu espero que ela ainda ache o mesmo. Eu acho.

Pijamas de Natal

O Natal é a época perfeita para receber pijamas. E não o digo porque recebi dois. Nada disso.
Digo-o porque o tema quente da minha consoada girou em torno de uma pequena reportagem de rua, que entrevistava as pessoas que faziam as últimas compras. À pergunta "O que é que veio comprar?", um rapaz que sai de uma loja da Baixa responde: "Comprei umas calças de pijama para a minha namorada".
A resposta pode parecer simples mas isso é para quem não é dado à arte de filosofar (e nós somos). Surgiram logo várias teorias: ele tinha uma tara - para dormir, só calças, mais nada - , ela estragou as calças do pijama e precisava de umas que combinassem com a camisola, ele não tinha dinheiro para o pijama inteiro, ele achou que era romântico comprarem o pijama a meias (esta última acrescentei eu).
Não há nada como uma questão relevante para lançar a reflexão sobre o significado do Natal.
Descobri que há um momento que me faz decidir se quero ou não tornar-me próxima de uma pessoa.
Quando entramos no carro, após uma qualquer festa ou reunir de pessoas, há dois tipos de reacção: há o que começa imediatamente a dizer mal de x e y, da prenda, da atitude, da comida ou seja o que for, e aquele que diz "foi giro, não foi?". Dispenso o primeiro.
Obrigada.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Havendo mundo

"O comandante pôs cara de dúvida, Pombos-correios, estranhou, tenho ouvido falar deles, mas, francamente, não acredito que um pombo seja capaz de voar durante tantas horas como dizem, em distâncias enormes, para ir dar, sem se enganar, ao pombal onde nasceu, Pois vai ter ocasião de verificar com os seus próprios olhos, se me permite mandarei chamá-lo quando o pombo chegar para que assista à retirada e à leitura da mensagem que ele trará atada a uma pata, Se isso acontecer, só faltará que as mensagens nos passem a chegar pelo ar sem precisarem das asas de nenhum pombo, Suponho que seria um pouco mais difícil, sorriu o alcaide, mas havendo mundo, tudo poderá suceder, Havendo mundo, Não existe outra maneira, comandante, o mundo é indispensável"

José Saramago, in A viagem do elefante

Ilhas perpendiculares

Uma espécie de cobaia que se sabe parte de uma experiência. É essa a sensação.
E sempre a dúvida se há ou não grupo de controlo.
É mais uma coisa tipo: eu rio-me contigo e conto uma confidência porque és quase meu amigo. Mas na verdade é mais amigo daquela pessoa que não suporto. E o novelo enrola-se num complexo desfiar de amizades aos bocadinhos. Porque amigo é aquele a quem podemos dizer de quem não gostamos, ou não? E se não gostamos do melhor amigo do nosso amigo? Do namorado, do irmão adorado... Dizemos? Ou olhamos para o lado, respiramos fundo e esboçamos um sorriso amarelo na altura em que o assunto vier à baila?. "Sim, ela é mesmo querida". Podemos (devemos) fazer isso?
Mas já fugi ao assunto. Voltemos à minha experiência científica.
O grupo reúne-se todos os dias e entrelaça histórias. Há quem goste de hierarquias: "A minha pessoa preferida é x, a seguir é y e depois w". Marca terreno. Fico feliz por ficar de fora das linhas porque as linhas iam cozer-me a um trapo sujo.
No entanto o jogo de revela e esconde continua sempre. Ou contamos demais - e tropeçamos na nossa sinceridade - ou contamos de menos e não somos parte do grupo. A experiência não tem fim.
No fundo o objectivo é misturarmo-nos naturalmente. Mas não há nada de natural nisso. É um jogo de pecinhas de diz-que-disse. Que cansa. Que gasta a capacidade humana de adaptação. Esse equilíbrio entre o próximo e o distante. Faço-o tão mal... Quando dou por isso estou a tentar insistentemente gostar de uma pessoa porque alguém de quem gosto gosta dela. E se gosta tanto, devo ser eu que embirro de graça. Faço piada, meto colherada na conversa. Tento. E um dia dá-se um clique e percebo que chega de tentar gostar de quem não gosto. Claro que depois do clique é mais difícil conter a tentação de responder torto ou sorrir placidamente a uma provocação. O clique muda tudo.
Mas voltei a fugir ao tema. Ou o tema quis enganar-me.

sábado, 20 de dezembro de 2008

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Manoel de Oliveira, uns dias atrasado

Sempre que me juntei às críticas em tom trocista que sempre se fizeram a Manoel de Oliveira, fi-lo discretamente e com alguma vergonha. Porque sabia que não tinha como fundamentar a minha opinião, para além de dois ou três lugares comuns que andam na boca de toda a gente. Este post fez-me perceber que é urgente alugar uns filmes do maior cineasta português. Depois posso decidir se gosto ou não.

"Entre aqueles que elogiam apenas a longevidade de Manoel de Oliveira e aqueles que atacam a sua obra, há uma coisa em comum: não viram os filmes (10 minutos na RTP2 não conta). Nenhum cineasta tem sido vítima de tantos clichés e de tanta ignorância. Vale a pena ler o livrinho que acompanha a caixa Oliveira agora editada, onde João Lopes desmente com factos as parvoíces mais comuns (como a «duração excessiva»). Oliveira é um dos grandes cineastas vivos, e mais que os cem anos interessa sublinhar os setenta anos de carreira, a sua fidelidade voluntarista a um cinema livre e pessoal, à margem das ideias maioritárias e intolerantes. Digo isto à vontade, porque não sou um indefectível de Oliveira. Acho que tem vários filmes falhados (A Divina Comédia, A Carta) e alguns desastrosos (A Caixa, Um Filme Falado). Tenho também pouco interesse pelos seus filmes «históricos» (de Non até Cristóvão Colombo). Mas quem fez Douro, Faina Fluvial, Acto da Primavera, Francisca, Vale Abraão ou Vou para Casa não tem nada que provar aos filisteus. Adepto de uma noção teatral e literal da adaptação, é um dos grandes mestres do romanesco romântico, estilizado num registo distanciado e de uma ambiguidade católica perversa. Parece-me impossível gostar de Ozu, de Bresson ou de Dreyer e achar que Oliveira não vale nada. Não há nem nunca houve um só cinema (Godard fala da linhagem Lumière e da linhagem Méliés). Os filmes de Oliveira são difíceis, «elitistas» e pouco dados a expectativas comerciais e consensos críticos. Quem elogia o aspecto «anedótico» dos cem anos ou ataca os seus filmes, faz-lhe sem saber uma homenagem."

Pedro Mexia, in Estado Civil

Os malditos afectos

Tenho uma enorme embirração com a palavra "afectos" e como agora serve para caracterizar tudo: um filme de afectos, um livro de afectos, um programa sobre os afectos. Frases como "temos que aprender a falar dos afectos" dão-me comichões no cérebro. No entanto foi nessa palavra - afecto - que pensei depois de ler compulsivamente posts de um recém descoberto blog.
Todos os posts acabam em pergunta e 80% são sobre o amor, no geral. Como sei que gosto de ti, como sei que gostas de mim, como sei se alguma vez vou gostar de alguém como A gosta de B? Como sei se um dia vou ser totalmente feliz? Como sei se os meus amigos são aquilo que parecem?
As palavras li-as por puro voyerismo, por curiosidade. Mas os textos deixaram-me a pensar. Não será esta problematização dos "afectos" o primeiro passo para os tornar complicados?
É claro que eles são complicados, mas quando se teoriza demais, põe-se o pé em folha verde. Quando alguém diz "quando a pessoa certa aparecer eu vou saber e não vou ter tantas dúvidas", apetece-me ir lá dizer: isso é nos filmes. Quando as pessoas dizem que ouvem Deus, também não é exactamente uma voz, presumo. Essa coisa cristal clear demora algum tempo, não é um passe de mágica perfeito. Há dúvidas - há mil dúvidas -, medos e um volta atrás mental constante. Faz parte do processo.
Mas isto sou eu a teorizar.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A equipa de futebol

Agora, lá no jornal, decidiram formar uma equipa de futebol feminina, já que existia uma masculina.
Avisei logo que não contassem comigo e fiz figas para que a coisa ficasse por aí. Mas não. "Vá lá, vá lá, vá lá, vá lá!". Não. Não quero saber se vos falta uma pessoa ou se "assim não tem graça". Se eu jogasse é que não ia mesmo ter piada nenhuma, acreditem.
O convite levou-me numa viagem pelo tempo, quando havia aulas que obrigavam a essa coisa do exercício físico. Como eu tentava ser invisível.
Sempre achei que as aulas de Educação Física não deviam ser obrigatórias, porque por mais que eu prestasse atenção às regras e me esforçasse, estava condenada à mais desastrosa nulidade desportiva. Eu não tinha mesmo jeito. Jamais poderia ter um cinco ou um quatro. E o três era por simpatia do professor, de certeza, porque eu era bem comportada.
Lembro-me de ter chegado ao fim do 12º ano e ter pensado nisso. "É pá, nunca mais vou ter aulas de Educação Física". Foi um alívio e uma paz para a minha auto-estima.
Então e agora estou eu a fazer mexer o intelecto, a fazer valer o cérebro, e querem que eu jogue à bola? Amigas, vocês não entendem a psique de um looser desportivo. Nunca mais poderíamos conviver como iguais depois de me verem tentar movimentar uma bola.

Por agora prometi que assistia aos jogos, que torcia, até pulava se fosse preciso. Elas ainda acham que na hora H eu me vou entusiasmar e saltar para o campo.
Mas o que eu tenho a dizer é: "No relvado, jamé!"

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Boas notícias

O Ipsilon já está online: http://ipsilon.publico.pt/

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Prémios Gasganete

Já foram feitas as nomeações para os Prémios Gasganete, que elegem empresas e pessoas que mais promoveram a precariedade em 2008. Os prémios estão divididos em quatro categorias: Acumulação, Soundbyte, Sem Vergonha e Ficção Contemporânea. Os meus preferidos são os da categoria Soundbyte, que "distingue pessoas ou instituições que tiveram uma frase lapidar naquilo que é hoje o estado da precariedade", segundo a Lusa.
E eles são: Francisco Van Zeller (presidente da Confederação da Indústria Portuguesa), Manuela Ferreira Leite (presidente do PSD), a cadeia de supermercados Pingo Doce e Pedro Nuno Santos (deputado do PS).
Motivos:
O slogan "sabe bem pagar tão pouco" valeu à cadeia de supermercados Pingo Doce a nomeação. "É uma frase que se dirige aos consumidores e é aproveitado por nós para denunciar a política de emprego da empresa", referiu um dos responsáveis do concurso.
"Se não houver precários não há nada", foi a "pérola" de Francisco Van Zeller, enquanto Manuela Ferreira Leite foi nomeada pela frase: "Temos que banir a palavra precariedade do nosso dicionário porque é tudo precário, qualquer trabalho que se arranje tem sempre essa dimensão precária".
Pedro Nuno dos Santos foi nomeado por ter dito que "os actuais falsos recibos verdes continuam falsos depois das alterações, com uma diferença, é que serão mais caros".

Dizem que Portugal é um país de Palavra. Só não especificam que palavras...

Diz que é uma espécie de Top Model

A revista do jornal El Mundo elegeu os 10 homens mais elegantes do mundo. Deixem cair esses queixos:

1º Karl Lagerfeld, estilista
2º Roger Federer, tenista
3º Barack Obama, presidente eleito dos EUA
4º Brad Pitt, actor norte-americano
5º Haakon Magnus, príncipe norueguês
6º José Sócrates, primeiro-ministro português
7º Jude Law, actor britânico
8º Príncipe Carlos, Reino Unido
9º Nicolas Sarkozy, presidente francês
10º Príncipe Kril, da Bulgária

Estes espanhóis...

A Grécia arde

"Novos confrontos entre a polícia e os manifestantes proliferaram ontem por toda a Grécia, desde o Norte ao mar Jónico e ao Egeu. A cólera desencadeada pela morte, no sábado, do jovem Alexandro Grigoropoulos alastrou mesmo a representações diplomáticas em Londres e Berlim. Trata-se da mais grave agitação a que a Grécia assiste nas últimas décadas.

(…)

A polícia carregou contra 300 manifestantes, na capital, Atenas, mas também houve violentos distúrbios no vizinho porto do Pireu e em Salónica, a segunda cidade do país, em Trikala, no Centro, em Larisa, Volos, Patra e nas ilhas de Corfu, Creta, Samos, Lesbos e Rodes. Foram incendiados um grande armazém e a árvore de Natal junto ao edifício do Parlamento. Pelo menos 35 pessoas foram detidas e mais de 50 ficaram feridas.Os distúrbios destruíram já 130 estabelecimentos atenienses. A câmara municipal suspendeu as actividades natalícias.O Partido Socialista Pan-Helénico (PASOK, oposição) pediu à população que criticasse o Governo mas se abstivesse de novos actos de violência.Os professores universitários iniciaram três dias de greve. Os blogues populares entre os estudantes do secundário incitam-nos a boicotar as aulas, num clima de insurreição. Ao longo destes dias manifestantes, incluindo muitos anarquista, têm gritado "polícias, assassinos", e lançado bombas incendiárias, enquanto helicópteros tentam controlar as multidões.”

Jorge Heitor, in Público


Quando os países deixam de ser apenas lugares distantes cheios de pessoas desconhecidas, começamos a sentir uma verdadeira preocupação ao ler estas descrições. Percebemos que as guerras do mundo – com todas as suas contradições e consequências - são também um pouco nossas.
Faço figas Sofia, já sabes. Filakia *

sábado, 6 de dezembro de 2008

Vá, há muito tempo que não dizia mal de qualquer coisa. Hoje apetece-me soltar o fel.
É que já não posso - entupi completamente a paciência - com conversas de catálogo sobre homens e mulheres. Já revirei os olhos 35 vezes, suspirei em surdina 27 e encolhi os ombros 43. Tudo nuns 15 dias. As mulheres são de Vénus, os homens de Marte. Já se sabe...
Estes são alguns dos lugares comuns mais insuportáveis que as pessoas estão CONSTANTEMENTE a repetir: os homens são todos iguais, as mulheres são mais inteligentes, os homens só pensam em sexo, as mulheres são umas cabras umas para as outras, os homens são muito mais honestos e porreiros, "eu só tenho amigos homens, nunca me dou bem com mulheres" (como se a pessoa a proferir esta frase se considerasse uma excepção da sua "espécie"), os gajos giros nunca gostam de gajas feias, as mulheres são mais sensíveis. Tudo bem regado de uma sessão de visitas ao Hi5 onde desfilam namoradas "horrorosas" de ex-namorados ou amigos, facto que "não faz sentido nenhum".
No outro dia proferi um "que disparate" e levei com um "já irritas com essas coisas". Por isso voltei aos suspiros.
O girl power é das coisas mais "estupidinhas" que conheço. É o único adjectivo possível.

P.S. Antes de virem defender estes lugares comuns pensem lá se não lhes conhecem umas 2342 excepções. É que o ditado "a excepção confirma a regra" só conta se for uma...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Vi Deus

Mora num museu em Marvão.
A entrada só custou 1 euro. Achei barato.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

O Desafio

Bem, eu não ia aderir a isto (até porque vi uns resultados infelizes), mas confesso, sou uma influenciável.
A Tracey já reservou o Bob, o Rui os Beatles, o Arrumadinho o Sérgio Godinho e a Pipoca o Frank Sinatra. Tudo boas escolhas. Tentem adivinhar a minha:

1) És homem ou mulher? Essa muída
2) Descreve-te: Sonhadores Inatos
3) O que as pessoas acham de ti? Frágil
4) Como descreves o teu último relacionamento: O Centro Comercial fechou
5) Descreve o estado actual da tua relação: Vermelho redundante
6) Onde querias estar agora? No Bairro do Amor
7) O que pensas a respeito do amor? Encosta-te a mim
8) Como é a tua vida? Olá, tenho que ir andando
9) O que pedirias se pudesses ter só um desejo? Dá-me lume
10) Escreve uma frase sábia: "Enquanto alguns fazem figura/ Outros sucumbem à batota/ Chega aonde tu quiseres/ Mas goza bem a tua rota"

O homem do Vôo Nocturno

P.S Para quem não sabe, o desafio é responder às perguntas com nomes de músicas de um artista que gostemos.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Os 10%

"Imaginem que todos os gestores públicos das setenta e sete empresas do Estado decidiam voluntariamente baixar os seus vencimentos e prémios em dez por cento. Imaginem que decidiam fazer isso independentemente dos resultados. Se os resultados fossem bons as reduções contribuíam para a produtividade. Se fossem maus ajudavam em muito na recuperação.
Imaginem que os gestores públicos optavam por carros dez por cento mais baratos e que reduziam as suas dotações de combustível em dez por cento. Imaginem que as suas despesas de representação diminuíam dez por cento também. Que retiravam dez por cento ao que debitam regularmente nos cartões de crédito das empresas. Imaginem ainda que os carros pagos pelo Estado para funções do Estado tinham ESTADO escrito na porta. Imaginem que só eram usados em funções do Estado. Imaginem que dispensavam dez por cento dos assessores e consultores e passavam a utilizar a prata da casa para o serviço público. Imaginem que gastavam dez por cento menos em pacotes de rescisão para quem trabalha e não se quer reformar. Imaginem que os gestores públicos do passado, que são os pensionistas milionários do presente, se inspiravam nisto e aceitavam uma redução de dez por cento nas suas pensões. Em todas as suas pensões. Eles acumulam várias. Não era nada de muito dramático. Ainda ficavam, todos, muito acima dos mil contos por mês. Imaginem que o faziam, por ética ou por vergonha. Imaginem que o faziam por consciência. Imaginem o efeito que isto teria no défice das contas públicas. Imaginem os postos de trabalho que se mantinham e os que se criavam. Imaginem os lugares a aumentar nas faculdades, nas escolas, nas creches e nos lares. Imaginem este dinheiro a ser usado em tribunais para reduzir dez por cento o tempo de espera por uma sentença. Ou no posto de saúde para esperarmos menos dez por cento do tempo por uma consulta ou por uma operação às cataratas. Imaginem remédios dez por cento mais baratos. Imaginem dentistas incluídos no serviço nacional de saúde. Imaginem a segurança que os municípios podiam comprar com esses dinheiros. Imaginem uma Polícia dez por cento mais bem paga, dez por cento mais bem equipada e mais motivada. Imaginem as pensões que se podiam actualizar. Imaginem todo esse dinheiro bem gerido. Imaginem IRC, IRS e IVA a descerem dez por cento também e a economia a soltar-se à velocidade de mais dez por cento em fábricas, lojas, ateliers, teatros, cinemas, estúdios, cafés, restaurantes e jardins.
Imaginem que o inédito acto de gestão de Fernando Pinto, da TAP, de baixar dez por cento as remunerações do seu Conselho de Administração nesta altura de crise na TAP, no país e no Mundo é seguido pelas outras setenta e sete empresas públicas em Portugal. Imaginem que a histórica decisão de Fernando Pinto de reduzir em dez por cento os prémios de gestão, independentemente dos resultados serem bons ou maus, é seguida pelas outras empresas públicas. Imaginem que é seguida por aquelas que distribuem prémios quando dão prejuízo. Imaginem que país podíamos ser se o fizéssemos.

Imaginem que país seremos se não o fizermos."

Mário Crespo

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Pornografia Infantil, NÃO

Se o Bush criou o Eixo do Mal com países, os bloggers também podem renovar o conceito. Porque jamais o Mal (assim com maiúscula) foi exclusividade de uma nação, uma raça, uma língua ou uma religião. Essa coisa do Mal existe nos indivíduos, e nunca saberemos ao certo se resulta de uma distorção cerebral, ou de uma alma defeituosa. Ok, podre.
O que sabemos é que o esse Eixo passa por estas palavras: angels, lolitas, boylover, preteens, girllover, childlover, pedoboy, boyboy, fetishboy ou feet boy.
São os termos mais usados na pesquisa de pornografia infantil. Hoje a blogosfera adere a uma campanha para trocar as voltas a quem escreve estas palavras nos motores de busca. O objectivo é "entupir os motores de busca com os nossos posts para que no dia de hoje, o dia D, este crime tenha uma barreira a mais".
Para mais esclarecimentos ir a http://margemdeerro.blogspot.com/2008/11/pornografia-infantil-no.html

"Porque os blogs não têm de ser só “diários egocêntricos”.
Hoje vi o primeiro Pai Natal pendurado do ano. Era daqueles pequeninos, a sair de uma varanda, à estilo enforcado.
Tive medo.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Suspender a democracia

Não se pode fazer reformas contra as próprias classes profissionais, disse Manuela Ferreira Leite. Quer dizer, até se pode, mas não em democracia, corrigiu. "Até não sei se a certa altura não é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia".
Na verdade isso da democracia é um empecilho. Livrem-se disso.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Em relação aos protestos dos professores

Ultimamente tenho ouvido algumas opiniões bastante levianas sobre os protestos dos professores em relação à avaliação. Que não querem fazer nada, que querem passar impunes, que querem ter um estatuto diferente dos outros trabalhadores.
Primeiro que tudo, há que perceber que a escola não é uma empresa e não pode ser tratada como tal. Mas isso é a minha opinião pessoal.
Os motivos porque me oponho a essa avaliação são vários e bastante bem fundamentados, mas nada originais, e já foram amplamente explicados por muitos especialistas, por isso não os vou repetir.
O que quero dizer a essas pessoas que falam à boca cheia sobre assuntos sobre os quais pouco percebem é: não vos parece bastante arrogante rotular de "preguiçosa" a esmagadora maioria de uma classe trabalhadora completamente heterogénea? Um contestação como esta nunca se viu. O número de manifestantes nas ruas atingiu recordes e desafio-os a encontrar um professor que esteja de acordo com a situação. Não quererá isto dizer que de facto alguma coisa está mal? Talvez devessem parar e escutar. Seria sensato.

sábado, 15 de novembro de 2008

Long time no see

Há momentos em que me atrapalho com a minha própria condição de ser humano:

- Olá! Há quanto tempo!
- Pois é! Estás boa?
- Sim, e tu?
- Também
- Está a ser giro o concerto, não está?
(não é nada disto que quero dizer, mas não consigo dizer mais nada)
- Sim, estou à espera de Deolinda.
- Ah, eu também, nunca vi.
(sorrisos, silêncio)
- Estás bem?
(quero mesmo saber se estás bem, quero que saibas que podes contar comigo sempre. Eu sei que às vezes sabe bem falar com alguém de fora, que nos oiça como se fosse a primeira vez. Liga-me um dia destes)
- Sim... Cortaste o cabelo!
- Tu também! Está giro! Não tinha certeza se eras tu, mas estás igual, és inconfundível.
(nunca me esqueci de ti. E claro que vi logo que eras tu, mas tive medo de não saber o que dizer, de parecer insensível, ou de parecer demasidado sensível...)
- Que giro encontrarmo-nos.
- Sim! Bem, vou voltar para ali.
- Beijinhos! Temos combinar qualquer coisa!
- Sim!

Faço figas para que saibam de todas as coisas que não digo mas quero dizer.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Esse facto?

Gostei especialmente do meu horóscopo hoje, no Global Notícias:

"Esse facto provocará em si alguma falta de autoconfiança. Sentir-se-á particularmente apaixonado."

Ou alguém se enganou no copy/paste, ou o Miguel de Sousa (o astrólogo) referia-se à sandes que comi ao almoço, que de facto me deixou desconfiada.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Ele não gosta nada de sair à noite

Só hoje consegui acabar de ler a entrevista da Pública ao Santana Lopes.
Há uma parte em que o jornalista Paulo Moura lhe faz algumas perguntas sobre a imagem que ele tem de homem que anda sempre em festas, facto que ele nega veementemente.
Há uma resposta que achei particularmente hilariante:

O que fez ontem, por exemplo?
Ontem fui conversar com um amigo meu, fomos para ao pé do rio, como faço muitas vezes. Fui ao Piazza di Mare, ao Caffeine. Mas a maior parte das noites não saio [que coincidência ter-me perguntado logo pela única noite em que saí!]. Ao fim-de-semana saio com a pessoa com quem vivo e com os meus filhos. Vou a Sesimbra. Sábado fui almoçar a Serpa. Agora: não me apanham em festa nenhuma. Olhe, sábado tenho uma festa de anos. É uma festa com muita gente, enfim, tenho e ir. [Então mas não tinha dito que nunca o apanhavam em festas?] Mas por mim, não vou. Sei que a minha imagem é ao contrário, mas não há nada a fazer. Agora, se me perguntar: vai a recepções de embaixadas? Não, não vou. No outro dia fui à do Brasil, no dia da independência [Mas afinal, vai ou não vai?]. O embaixador foi muito simpático, disse que gostava muito que eu fosse. E fui [Foi só porque insistiram!]. Nesse dia fui a três cerimónias: essa, a entrega do prémio da Fundação Champalimaud e outra no Espaço Chiado [Para quem não ia a nenhuma...]. Tinha obrigação de ir. Era da sobrinha do rei de Espanha, que eu conheço [tenho amigos na realeza!]. Lançava um produto e convidou-me. Cumpri a minha obrigação e fui-me embora. Porque eu desisti de ir a festas.

Os Amigos

Se há coisa que um jornalista aprende desde cedo é que nada é estanque. E se o mundo muda, também mudam os amigos.
Tal como devemos rever o pódio do filme e da música preferidos, convém fazer updates mentais do/a melhor amigo/a e de quem se encontra na guestlist a que chamamos "os meus amigos".
Um dia disseram-me "nunca se sabe quando vais conhecer um amigo para toda a vida". Nunca mais me esqueci disso. Passei a questionar mais os lugares cativos para a bancada dos super-amigos, para a dos colegas, dos conhecidos, dos mais-ou-menos-amigos (estilo não-lhes-contava-dramas-existênciais). A lista muda e nem sempre é fácil admiti-lo. Damos títulos a quem já passou o prazo de os merecer, e excluímos quem na verdade já faz parte das nossas maiores simpatias. É como quando continuamos a dizer que banda X é a nossa preferida apesar de não a ouvirmos há mais de um ano.
Façam-se updates ousados. Reciclem-se as agendas telefónicas e o speed-dial.
"Nunca se sabe quando vais conhecer um amigo para toda a vida".

Para o Pedro

Nobody can tell you
There's only one song worth singing
They may try and sell you
Cause it hangs them up
To see someone like youuuuuuuuuu

But you gotta make your own kind of music
Sing your own special song
Make your own kind music
Even
if
nobody
else
sings
alooooooooooong

You're gonna be nowhere
The loneliest kind of lonely
It may be rought going
'Cause to do your thing is the hardest things to dooooooooo

But you gotta make your own kind of music
Sing your own special song
Make your own kind music
Even
if
nobody
else
sings
aloooooooooooong

So if you cannot take my hand
(paraparapapapapa)
And if you must be going, I'll understaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaand

You gotta make your own kind of music
Sing your own special song
Make your own kind music
Even
if
nobody
else
sings
alooooooooooooooooooooong
!!!!!!!!

Agora não digas mais que te roubei a música.

domingo, 9 de novembro de 2008

Pequenos ditadores

Todos nós já nos cruzámos com um: nas finanças, no centro de saúde, nas repartições públicas ou na polícia. Abusam do pouco poder que têm e muitas vezes maltratam quem lida com eles. A maioria das vezes somos apanhados de surpresa e submetemo-nos a esses caprichos de pequeno Hitler. Só depois nos apercebemos e amaldiçoamos a passividade: para a próxima, prometemos, dizemos-lhe das boas.
O problema é quando o pequeno ditador nos testa a paciência diariamente. Aí, meus amigos, o drama é outro. O desafio é conseguir equilibrar entre morder a língua vezes suficiente para não tornar o ambiente insuportável e fazer valer a nossa opinião, para que não nos tome por carneiro.
Podemos imaginar que seremos tão diplomáticos, tão eloquentes, tão compreensivos, que o nosso interlocutor se vai render às evidências. Imaginamos até uma interessante troca e opiniões, em que acabamos bem cotados na escala da consideração. Sim, podemos imaginar isso tudo. Se não nos calhar na rifa um daqueles espécimes que nasceram não com o rei, mas com o imperador na barriga. Só com uma cesariana mesmo.
Ao apercebermo-nos da clareza dos factos, a mente enche-se de notas mentais que apelam à calma, ao estado zen, à mais plácida indiferença. Postura que alterna com piadinhas mentais e ironias cruéis. "A partir de hoje não vou ligar, não vou provocar, não vou responder". Sou o Gandhi cá do sítio.
Mas quando o pequeno ditador exprime barbaridades em catadupa a língua ganha um formigueiro. E há um momento em que pensamos "vou só atirar com esta, mas não respondo a retaliações". Qual quê! Não vão nessa, é o meu conselho. A resposta vem tão rápida que nem vamos ter tempo de evocar imagens de prados e música à "Oceano Pacífico". Quando damos por nós já é tarde demais. As palavras já saíram e são indisciplinadas: indignadas e ofendidas, não querem saber de mais ordens, apenas querem repor a justiça.
Com o caldo entornado, arrependemo-nos. E logo a seguir não, porque era merecido. E logo a seguir sim, porque era dispensável. E logo a seguir não, porque temos que impor respeito. E logo a seguir sim, porque, como todos dizem, "não vale a pena".
O problema é que ignorar os delírios dos pequenos ditadores faz-me sempre sentir que compactuo com eles. Se uma pessoa, digamos, disser "Aqui nunca se vai contratar um preto porque detesto pretos"* e eu não disser nada, sinto-me um verme humano.

O bom senso é uma coisa muito difícil de utilizar.

* frase fictícia, apenas a título de exemplo. Sim, eu conheço os meus leitores, já estavam com ideias.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Machismo

Venho aqui recuperar um tema que já deu pano para mangas: o machismo. Isto porque esta semana li um artigo no Courrier que diz que Portugal é uma sociedade profundamente machista. Deixo uns excertos:

"A liberdade sexual é «para as estrangeiras», porque «uma mulher portuguesa como deve ser não sai com um rapaz sem o conhecer bem, e só sai à noite se o namorado for com ela. Ver um grupo de amigas num bar, à noite, é uma imagem terrível», afirma Ana, juíza de 35 anos, que não sai à noite. «Sou juíza numa cidade pequena e, se me virem por aí, deixam de me respeitar», explica".

De seguida vem a opinião de um homem que diz que «uma rapariga que conhece na noite é para diversão» e não serve para casar.
O artigo centra-se muito, também, nos baixos números de mulheres na política, em cargos altos de empresas ou de professoras universitárias. E claro, no drama da violência doméstica, usando o exemplo de um homem que matou a mulher e teve a pena reduzida para quatro anos por se considerar que tinha havido "violação dos deveres conjugais".
Estas últimas questões são óbvias, infelizmente. Mas é no que toca à "esfera social", onde, diz o artigo, "Portugal exibe um machismo mais preocupante" que as dúvidas me assaltam.
Não acho que socialmente as coisas sejam assim, como no exemplo citado. Se me vierem dizer que o País é mais machista no interior, nas pequenas cidades, até posso acreditar. Desde que não me venham com essa do "País real", porque Lisboa e Porto (e com certeza muitas outras cidades) também são o País real e a minha experiência é tão válida como a de uma senhora em Freixo de Espada à Cinta. Se não se pode dizer que Lisboa representa Portugal, também não se pode dizer que as aldeias rurais é que definem a sua essência.
Com isto não quero dizer que não há machismo. Quando os chamados "homens das obras" gritam "ó boa" (para não estar a dar exemplos menos próprios) e a sociedade aceita isso como sendo uma coisa "normal", isso é machismo do mais nojento. Quando troco de passeio na rua porque sei que vou ser assediada, e entendo isso como parte do dia-a-dia, só posso assumir que o machismo existe.
Mas custa-me entrar naquela conversa muito revoltada, quando nunca senti que uma oportunidade me era vetada por questões de género. Um grupo de amigas num bar, à noite, nunca foi mal visto. Nem raparigas sairem sem o namorado. Nem ficar com má fama por sair à noite. Portugal não é isso. O meu Portugal, pelo menos, não é.

Bom, mas o motivo porque estou a escrever o post é exactamente porque esta questão não é clara. Há demasiadas nuances. O artigo que citei foi escrito, curiosamente, por um jornal espanhol. Não são os espanhóis tão machistas quanto os portugueses? Ainda se fosse um jornal sueco, eu percebia que um enviado especial sentisse um contraste.
Peço a todos que deixem um comentário com a vossa opinião. Principalmente quem mora, morou ou conhece bem a vivência de outros países.

Afinal, somos machistas ou não? E: não serão as próprias portuguesas culpadas de muitas das situações referidas? Não são muitas vezes elas que se afastam de determinadas profissões por considerarem ser "um trabalho de homens"?
"Não posso viver com alguém que não possa viver sem mim" - Nadine Gordimer, escritora

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Rescaldos

“No relvado, nas avenidas envolventes, a multidão reagia com euforia. "Isto é emocionante e lindo e extraordinário. Esta é a essência do nosso país: um lugar onde tudo é possível", comentava Nathan, estudante da Roosevelt University. Na hora em que a vitória de Obama foi confirmada, a maior parte dos jornalistas também levantava os braços. "Será que devíamos tentar entrevistar os jornalistas a chorar?", questionava-se uma correspondente internacional.

(...)

Judith Helfand, uma documentarista de Nova Iorque, viajou até Chicago para "viver a história" com os seus novos amigos do Southside, um dos bairros mais desfavorecidos da cidade e onde Obama iniciou a sua carreira de activista comunitário. Judith conhece bem o lugar, onde tem passado dias e dias, na sequência do seu trabalho: um filme sobre a onda de calor que assolou Chicago no Verão de 1995 e que matou 739 pessoas nas zonas pobres da cidade."Vê-los no parque, estes adolescentes de brincos brilhantes nas orelhas, de lágrimas nos olhos, a abraçarem-se de felicidade, a discutirem a distribuição dos votos e os desafios do Presidente e o que eles esperam que seja a América do futuro, reconciliou-me com o meu país", explicava a documentarista. "As implicações disto serão tremendas", continuava. "Há milhões de crianças que vão agora olhar para Obama e identificar-se com ele. Vão ficar mais tempo na escola, vão estar mais envolvidas. Acredito que teremos um país muito melhor no futuro por causa do que fizemos aqui esta noite", terminava.”

Rita Siza, in Público


Dá um arrepio, não dá?

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

The audacity of hope

Perdi a paciência para cépticos e velhos do Restelo. Vale a pena acreditar.
Hoje o mundo acordou mais optimista. Os líderes mundiais mais polémicos abriram a porta ao diálogo: Putin, Chavez, Castro, Abbas, Olmert. Vamos começar uma nova era. Deixemo-nos de "bomb bomb bomb". Pode desiludir? Pois pode. Mas porque não ter esperança?

domingo, 2 de novembro de 2008

A grande entrevista a MFL



Não consegui resistir. "Eu não estou a perceber a sua pergunta, palavra de honra".
Parece-me bem a ideia de mergulhar Santana em alcatrão e cobri-lo de penas.

O anúncio que adoro



Publicidade que me faz feliz :)

Peixes sem guelra também vivem dentro de água

A capacidade de adaptação das pessoas é fascinante. Chegamos a um lugar novo, de malas e bagagens, e é claro: este não é o meu lugar. Oscilamos entre o low profile e a simpatia excessiva. O que é que vou fazer com estas pessoas? Nunca vou conseguir ser como elas. Somos peixes fora de água, que abrem a boca aflitos em busca de ar. Até que decidimos entrar na água. Não conscientemente. Vamos entrando. Molhando os pés (as barbatanas, aliás) até estarmos submersos.
E nessa altura é tudo mais fácil. Não é que não se notem menos aqueles "problemas". Mas aprendemos a contorná-los e a entrar naquela dança social. Sabemos fazer uma piada amigável com aquela "miúda mimada", dar uma resposta mais certeira ao "rapaz convencido". Aprendemos o ritmo. Sabemos que ir à maquina do café é sinónimo de perguntar se mais alguém quer. Sabemos que a directora se interessa por Sintra, e a colega de trás tem um bebé acabadinho de sair do forno. Alguns vão sendo quase amigos. E os dias passam mais despercebidos, menos alerta. Já não chegamos a casa a amaldiçoar o mundo. Aprendemos as regras.
Às vezes observo pessoas assim, como eu, fora do seu habitat. Fico sempre fascinada como se moldam. Parece que mudam o interruptor quando passam portas. "Modo trabalho", "modo família", "modo namorado", "modo família do namorado", "modo amigos daqui", "modo amigos dali". Lá no meio há uma identidade nossa que convém manter sólida. Que escapa de vez em quando, num suspiro zangado ou numa exclamação entusiasmada fora de contexto. O nosso eu desadaptado a escapar do protocolo.
Lá por sermos peixes debaixo de água não quer dizer que tenhamos guelras.

O fim do sonho americano?

Ouvir como os EUA estão em crise é coisa que me deprime. Claro que é mais importante que Portugal esteja em crise, mas vejamos, Portugal sempre esteve em crise. Está sempre em crise. E os portugueses estão sempre preocupados. Por isso não é um choque, é um estado de permanente angústia.
Mas a verdade é que - seja mito ou não - sempre acreditei no sonho americano. Que apesar de tudo os EUA eram ainda um país de oportunidades. Onde o mérito pessoal era apreciado, e onde os forasteiros podiam ser alguém. Viva o melting pot e o self made man. Num qualquer momento de revolta ainda podia pensar "qualquer dia vou para américa e depois vão ver como vão ouvir falar de mim!haha!". Quando leio reportagens atrás de reportagens sobre desemprego, filas para ajuda alimentar, casas ao abandono porque não havia dinheiro para as pagar, cai-me aquela tristeza de estar a presenciar o fim da "terra das oportunidades". Hoje li na Única a seguinte frase de uma portuguesa que vive nos EUA: "Não venham. Para quê deixar o nosso país? Isto já não é a America".

O que é então?

sábado, 1 de novembro de 2008

As maravilhas do Centro Pompidou

P.S. Para quem não percebeu, as duas fotos são da mesma estátua, de ângulos diferentes.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

"Que tudo corra pelo melhor", disse-me o rapaz em tom confidente. Eu saí, apressei o passo. Um suspiro nervoso. "Pelo melhor, sim...", pensei. O melhor.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Mamma Mia/ Casa Pia

A gargalhada do dia



Jornalistas bem retratadinhos, hein? Vá, é merecido.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Para os meus amigos "expatriados"

"Thomas Jefferson, que passou vários anos como diplomata em Paris, tinha esta fórmula: depois de um ano fora, são precisos dois anos para nos sentirmos confortáveis no nosso próprio país; se estamos fora cinco anos, são precisos dez; mas depois de dez anos fora é impossível regressar e sentirmo-nos em casa"

Martin Earl, americano em Portugal há 22 anos


Se calhar é melhor termos cuidado. Sim, estou a incluir-me.

Porque é que os Estados Unidos devem votar em Obama?

“Dos vários défices legados pela Administração Bush, o mais grave é a queda do poder de atracção em relação a outros pontos do globo. Os Estados Unidos passaram a ser olhados como uma nação arrogante, que privilegia a força sobre o direito e despreza o consenso e, talvez mais grave, como uma nação em guerra não com o terror, mas com o Islão. Sondagem após sondagem, é esta a imagem que se acentua desde 2003. Não mais a de campeã do multilateralismo, da democracia e da liberdade, mas do reino da arbitrariedade e da prepotência, desde a teia de falsidades da guerra do Iraque, aos espaços de não direito, como Guantánamo, Abu Ghraib ou a justificação da tortura. As violações dos direitos fundamentais minaram a credibilidade dos Estados Unidos para promover a democratização.”


Álvaro Vasconcelos, director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia, in Pública


Porque se Obama vencer há, pelo menos a esperança, de que isto mude.
Em tempo de eleições – americanas, mas também portuguesas (daqui já vejo os pés de 2009) – relembro uma sábia frase de Benjamin Franklin: “Qualquer sociedade que aceita perder alguma liberdade em troca de pouca segurança não merece nenhuma e perderá as duas”.

Para o mundo inteiro, na época actual, acho que a frase vem bem a propósito. Esperemos que alguém pense nela.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Viajar para dentro


Há quem diga que os clássicos "é que é", quem diga que os clássicos são uma fraude. Eu não sei. Diria que os clássicos são como os não clássicos, uns melhores que outros, uns eternos, outros não. Subjectivíssimos.
Mas a verdade é que são às centenas e sentimos que devemos lê-los. Que há um espaço vazio na biblioteca interior, essa enorme estante que nem no espaço de uma vida estará completa. Acrescentei-lhe uma nova capa hoje, quando virei a última página da "Viagem ao Centro da Terra", de Júlio Verne. Há neste livro um toque de fantástico, de ficção científica, de aventura, de romance histórico. Tudo misturado num género indefinido.
É viciante, invadiu-me os sonhos de grutas escuras e mundos misteriosos. Óptimo livro de viagem, seja ela qual for. Até para as interiores.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O casamento C&C

Já risquei um ponto da minha lista de "eu nunca". Eu já fui a um casamento. Muito pouco tradicional, bem sei. Mas para mim foi o casamento contos-de-fada. Não teve banda, nem dezenas de convidados. Não foi num grande restaurante nem se prolongou noite a dentro. Mas reuniu num só espaço amigos sem fronteiras e celebrou uma união muito especial.
Havia "aquele francês" no início. Que se tornou "no francês" por quem valia a pena virar o mapa-mundo. Neste casamento que todos acompanhámos, acarinhámos e "abençoámos", os noivos falam três línguas numa conversa de 10 minutos, e isso para mim é a coisa mais romântica do mundo.

Apesar do racionalismo dizer não, o nosso romantismo todo dizia sim! Atirámos pétalas e brindámos ao futuro. Levámos champanhe para a Torre Eiffel. Um brinde desses só pode dar sorte. Mesmo que os meus pés ardessem de dor e os sapatos salto-alto de verniz passeassem na mão. Acho que até isso deu sorte. Porque no fim, a relva era macia.




sábado, 18 de outubro de 2008

Paris conquistou-me

Eu não acredito em Amor à primeira vista. Com pessoas. Agora com cidades...

Paris e a sua cara-postal roubaram-me suspiros. Que cliché gostar de Paris...! Mas como resistir ao Sena, ao quadro encantado que é cada esquina, às lojas, aos cafés tirados do mais perfeito imaginário, à modernidade, ao ar cosmopolita, à agitação deliciosamente permanente das ruas?
Paris conquistou-me.



quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A letra P já significa muita coisa

Até para a semana. Vou conhecer a Torre Eiffel e quem sabe apanhar um bouquet.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Lisboagate, ou a piada-sobre-a-Câmara-de-Lisboa-nos-próximos-seis-meses

A crónica já vem atrasada, mas mais vale tarde que nunca. Faço dele as minhas palavras (se bem que as dele são mais certeiras):

"A CUNHA TEM MUITO que se lhe diga. Toda a gente está disposta a condená-la e a apontá-la como uma das causas do atraso de Portugal, mas poucos, na prática, passam sem ela. Se Jesus, em vez de frequentar as terras de Israel, tivesse pregado nas margens do Tejo, teria dito à multidão em fúria: "Quem nunca meteu uma cunha que atire a primeira pedra." E aí todos baixariam a cabeça, começando pelos mais velhos, e iriam apedrejar para outra freguesia. É que a cunha não é um acto de corrupção, como enfiar notas na mão de um autarca. É, de forma bem mais cândida, driblar a máquina burocrática, pedir pequenos favores para o primo que é óptimo rapaz, tentar muitas vezes ajudar quem efectivamente precisa ou, como se diz na minha terra, ter um simples "olhamento".

Mas, claro, de cunhas bem-intencionadas está o inferno cheio. Veja-se o caso "Lisboagate". As primeiras notícias divulgadas pelo DN ainda vinham acompanhadas de um halo de santidade. Os abusos na atribuição de casas pela autarquia eram, afinal, justificados pelas melhores razões: do Presidente da República à esposa do primeiro-ministro, todos metiam cunhas e pediam casas, mas sempre a favor do pobrezinho desamparado. A cunha, boa parte das vezes, não beneficia directamente o próprio e é feita com o argumento de reparar uma injustiça. O problema é que, sem a existência de regras claras e justas, passa a haver uma espécie de fotogenia da pobreza: beneficiam aqueles que melhor comoverem os poderosos. Claro que atrás do pobre vem o motorista do Presidente que mora longe, coitado, e atrás do motorista vem a funcionária que se divorciou e não tem para onde ir, e atrás da funcionária vem o filho da funcionária, que também é filho de Deus.

A partir daí, nessa avalanche de cunhas e favores cabe tudo, e tudo se mistura. Quando o caso "Lisboagate" atinge um nome como o de Baptista-Bastos, é porque algo está podre no reino da Dinamarca. Numa breve troca de mails, Baptista-Bastos negou-me ter tido qualquer comportamento "reprovável" e eu não tenho qualquer razão para pôr em causa a sua verticalidade. Mas também não tenho dúvidas de que ele jamais deveria ter recorrido à câmara para conseguir uma casa. O escritor Baptista-Bastos, que já tanto deu a Lisboa, podia ter direito a ser ajudado numa altura de dificuldade, como parece ter sido o caso. O jornalista Baptista-Bastos, não. Porque pediu um favor ao poder autárquico. Porque auferiu de um privilégio vedado ao cidadão comum. Que alguém que sempre foi tão moralmente exigente nos seus artigos de imprensa não perceba isto faz-me confusão. Quem, como ele, acredita na nobreza do jornalismo, tem de reconhecer uma cunha quando a vê. E, sobretudo, deve reconhecê-la quando a mete".

João Miguel Tavares, in Diário de Notícias

A confusão que pode ser um filme com o formato de reportagem do 60 minutos (ou semelhantes)

Ontem fui ver “A morte de um Presidente”. Sim, já era tempo de provar que também sei falar de filmes. Que assim uma pessoa sente-se deslocada em relação aos pares.
Ainda estou a digerir aquela coisa do “gostei” ou “não gostei”. Inclino-me mais para a primeira, mas quando o processo terminar dou o veredicto.
Quando as luzes da sala vip do Amoreiras acenderam o Pedro olhou para mim e disse “Coitado do Bush”. É verdade, até eu tive pena do Bush, com os manifestantes a lançar palavras de puro ódio, e principalmente porque – isto já nem sequer pode ser considerado spoiler – o homem morre. Dão-lhe um tiro. Pumbas, e morre mesmo.
À saída do filme discutimos brevemente se era ou não anti-Bush. Eu disse que não.
Quando cheguei a casa achei que se calhar era. Já lá vou.
O curioso do filme é estar feito naquele estilo documental de facto –> testemunha –> facto. Fala a “escrevedora de discursos”, fala o segurança, fala o FBI, fala o veterano de guerra, a mãe dele, o manifestante, a mulher do suspeito. Tal e qual como nas produções que assisto na SIC Notícias. Não fosse um aviso no início do filme, eu duvidava. E depois são as imagens reais do Bush, é mesmo ele ali às voltas a fazer discursos e cumprimentar pessoas.
O segurança treme o queixo ao relembrar o tiro que mata o presidente. Seguem-se elogios à pessoa, ao seu espírito de liderança e sabedoria.
No entanto, não sei bem se é mesmo essa a mensagem que fica. Porque disso já estávamos à espera. Bom, também estávamos à espera que prendessem um muçulmano como suspeito. No entanto há momentos no filme em que também nós achamos que ele era culpado. Mas afinal não era. Mas continua preso, continua acusado.
Apesar de nessa altura o presidente já estar bem morto, é possível dizer que o filme é anti-Bush. Não porque prenderam o homem errado, mas porque manipularam a opinião pública tornando-o irreversivelmente culpado, quando ainda não havia certezas.
Porque – spoilers! – o verdadeiro assassino é um ex-veterano de guerra para quem todo o sentido da vida residia em defender o seu país, lutar por uma causa nobre e honesta. Esse mesmo veterano perde o filho no Iraque, e perde também o orgulho naquela missão. Não há armas de destruição massiva, o Iraque é um palco de chacina onde os americanos não são anjos, mas demónios. Digo que é anti-Bush porque rói as bases. O homem que deu a vida à pátria culpa Bush pela corrupção do país, não vê outra solução senão matá-lo e matar-se a si depois.
Contra isto não discurso comovente que resista.

O príncipe encantado que era preto

Ontem apanhei um episódio de estreia de uma novela nova. Fui para a cama a pensar naquilo.
Ainda não tinha dado conta de uma dessas produções da TVI abordar o tema do racismo no casal central. Se calhar até já aconteceu, mas eu nunca vi.
Pois bem, ontem reforcei aquela ideia, que tanta polémica deu num post passado, de que as novelas pecam pela mediocridade da mensagem.
Então aquilo era assim: jovenzinha leva o namorado para jantar em casa dos pais, para o apresentar. O rapaz é preto. O pai passa o jantar a resmungar e chega a ser mal-educado. Quando o rapaz se vai embora gera-se uma discussão pai-filha.
O que me chateou – e que me fez concluir que afinal a novela estava a ser mesmo racista – foi que o dito rapaz era PERFEITO. Estudante de direito na clássica, óptimas novas, lindo de morrer (sem margem para a subjectividade), bem vestido, muito educado, muito bem falante, muito apaixonado, muito compreensivo. A discussão subliminar é: pai, podes desculpar o facto de ele ser preto porque não tem mais defeitos. Tinham que fazer o rapaz impecável ou a cor da pele já seria demais. Não podia ser preto e desempregado, ou preto e um bocado rebelde. Isso desclassificava-o. Esses defeitos os pais só aturam aos namorados das filhas que são branquinhos.
Agora o Rogério Samora que se desenrasque com esta batata quente.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Eu tenho medo da Helena Roseta

Tenho uma mania embirrante de querer votar em eleições que não me dizem respeito. Nos EUA já toda a gente sabe. Na Câmara de Lisboa, podia adivinhar-se. Dispensava as eleições em Cascais, onde tanto me faz e pouco se passa e trocava-as por um voto na capital. Isso sim.
No ano passado estava a estagiar na Renascença quando foram as intercalares. Gostava da Helena Roseta, decidi que votava nela (sim, eu decido estas coisas). Depois, quando ela perdeu e o BE se coligou com o executivo, mandaram-me ligar-lhe para obter uma reacção. Liguei duas vezes sem sucesso, Tocava, tocava e nada. Enquanto esperava, entre a segunda e a terceira tentativa que nunca chegou a acontecer, a senhora da recepção sobe à redacção e pergunta “Quem é que tentou ligar à Helena Roseta?”. “Eu. Porquê?”. Bom, ao que parece a senhora ligou para lá e berrou até cair, sobre o facto de não pararmos de insistir nos telefonemas. Agradeci aos céus não me ter atendido…
Meses passados voltei a simpatizar com ela. Agora que trabalho na Grande Lisboa (secção do jornal, leia-se) recebo muitas propostas interessantes dos Cidadãos por Lisboa e volto a achá-la competente. Hoje voltei a ligar-lhe. Quando me preparava para marcar o número tive um arrepio. “Aposto que ela me vai tratar mal”, disse à minha editora. Ela riu-se e disse “claro que não”. Claro que sim. Ela é mesmo antipática e repete expressões como “oiça, eu não sei….”, “oiça, você sabe que…”. Mesmo assim a coisa ia normal. Perguntei o que tinha a perguntar. E depois… achei que devia arriscar e questioná-la sobre uma candidatura à Câmara. Big mistake. Como calculei que não me responderia, e não quis ser mal-educada, decidi fazer uma graça e disse: “Vou-lhe perguntar uma coisa mas não sei se me vai querer responder. Mas vou tentar”. Usei o tom mais amigável possível. Esperava uma gargalhada, um “então vá lá”. Levei uma descompostura. “Isto não é um concurso onde dá tiros no escuro para ver se eu caio. Não gosto de ser tratada assim”. Oh não… ela voltou a maltratar-me. Por acaso até me respondeu, mas desliguei o telefone com um sabor amargo na boca.
Continuo a achar que a Helena Roseta é competente, mas agora ainda tenho mais medo dela.

"Agora não, que falta um impresso"

Estou a fazer-me fã de Deolinda. Há toda uma sabedoria nesta letra deliciosa:

sábado, 4 de outubro de 2008

O homem que queria salvar a humanidade

Uma reportagem digna do Inimigo Público (se não fosse verdadeira):

“Vou estar com uma camisola verde, um casaco verde e uma pasta preta na mão. Ninguém tem pastas pretas, por isso vai ser fácil. Sou careca e tenho olhos azuis”.
Os contornos deste caso fazem lembrar um filme de detectives. Gabriel Pina é o informador, o Ponto do i um agente infiltrado.
“Acredito que possa estar até a correr risco de vida”. A conversa decorre na sala de visitas do estabelecimento prisional de Pinheiro da Cruz, onde Gabriel Pina está preso desde 2004 por posse de haxixe. O barulho quase ensurdecedor das famílias em conversas animadas, obriga Gabriel a falar-nos quase ao ouvido, o que torna tudo ainda mais fílmico.
O motivo de todo este mistério? Uma invenção da autoria de Gabriel Pina e que o próprio considera “revolucionária” e de “imenso interesse público”. O invento que criou ainda antes de ser preso (já tinha sido condenado, mas encontrava-se em situação de foragido – mais um elemento deste filme de acção) vem ao encontro das actuais preocupações ambientais: uma máquina que produz electricidade limpa, gratuita e não poluente, à semelhança de um aerogerador, mas que não está dependente do vento. Aliás, “não está dependente de nada”. Ou melhor, está, mas a fonte de energia não é nenhuma das tradicionais, nem o ar, nem o sol, nem as ondas.
Gabriel Pina mantém a fonte de energia desta invenção em segredo, porque “bastava revelá-la para que qualquer pessoa pudesse fazê-lo” e poderia perder os direitos sobre a sua máquina (chamemos-lhe assim, já que ainda não tem nome).
Tudo começou numa tarde de sofá. Desde sempre que Gabriel se interessou por engenhos, desmontava as bicicletas e as motas para lhes perceber o funcionamento. “Sempre me interessei por tecnologias”, conta. E foi no sofá que começou a magicar uma forma de construir um carro especialmente para idosos. Teria que ser muito económico já que a classe etária não é das mais endinheiradas.
Conseguiu chegar a uma alternativa energética “a custo zero”. A chave, explica, é o Movimento Perpétuo. O moto contínuo sempre foi uma quimera perseguida pelos físicos – uma máquina que reutilizaria infinitamente a energia gerada pelo seu próprio movimento – mas Gabriel Pina acredita que desvendou o mistério.
O processo, explica, é simples, não reside tanto no engenho, mas na ideia. “Eu próprio fico admirado como ninguém inventou isto”.

Desde que foi preso, Gabriel tem pedido indultos ao Presidente da República todos os anos, mas todos lhe foram negados. Escreveu a tribunais, jornalistas e políticos. Guarda, ainda um bilhete escrito à mão por Francisco Louçã, que se demonstra sensibilizado com a situação e promete: “logo que possível visitarei Pinheiro da Cruz”. Isto passou-se em 2005, mas até agora o bloquista ainda não apareceu.
“Não percebo como é que o Jorge Sampaio deu indulto a um homem que matou sete pessoas e não me dá a mim”. A questão, explica, é de interesse público e “compete ao estado ouvir todas as pessoas, todas as hipóteses”.
Gabriel ainda não entrou com um pedido de patente, porque desconfia da honestidade do sistema. Para registar uma patente em Portugal, é preciso enviar uma descrição do invento para o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), acompanhada por um desenho técnico, elaborado por um desenhador. Ora Gabriel acredita que o seu invento terá tal impacto, que o desenhador, ao ter acesso ao mecanismo, poderá tentar roubá-lo.
Para além disso, Gabriel não confia nas próprias regras do INPI e receia perder direitos sobre o seu invento. “Ninguém vai fazer uma falcatrua com um laboratório, mas eu sou apenas um cidadão anónimo”. Por isso, espera poder levar a sua máquina a uma feira de inventos, o que fará com que a sua criação tenha prioridade de entrada no INPI e, acredita Gabriel, esteja mais segura contra roubos.
“Mas alguma vez ouviu falar de um roubo de patente?”, perguntamos-lhe. “Toda a gente me pergunta isso”, responde. E devolve-nos a pergunta: “E já alguma vez ouviu falar do registo de algum invento mesmo importante em Portugal?”.
Por agora, Gabriel só pode esperar, mas promete que quando sair da prisão irá processar por negligência todas as pessoas do estabelecimento prisional que não lhe têm dado credibilidade: “Pensam que uma pessoa que está presa tem que ser um anormal”.

O Ponto do i esteve na praia


sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Métodos contraceptivos negam «verdade do amor conjugal», diz Bento XVI

"O Papa voltou, esta sexta-feira, a condenar todos os métodos contraceptivos. Bento XVI diz que os casais que os usam estão a «negar a verdade do amor conjugal».
O Vaticano condena a utilização de qualquer método para o controlo da natalidade. A posição é expressa num texto, assinado pelo Papa, hoje distribuído pelo serviço de imprensa da Santa Sé.
A única excepção admitida é a abstinência, mas mesmo neste caso a Igreja Católica advoga que apenas deve ser um recurso para casais que atravessem dificuldades graves".

TSF

Se o chefe máximo da Igreja diz estas coisas, conclui-se que pouco sabe sobre amor. Não há mesmo condições para ser católico.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Isto é racismo

O pior cartaz de sempre do PNR:


Reparem que uma das ovelhas diz "multiculturalismo", como se fosse um factor negativo, a par com a "criminalidade" ou os "salários baixos"

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Confissões de uma jornalista verdinha

Olha em volta. Será que falei com pessoas suficientes? Se calhar devia falar com mais uma.
Atenção, aquele senhor não é "civil", é "importante", não faças essas perguntas da treta. Pensa outside the box. Acho que não consegui.
E o ambiente? Estarei a captar um ângulo original? Não me parece...
Relógio. Bem, já são horas de ir andando.
Oh não, tão pouco espaço! Vamos a isso. Como é que vou meter tudo isto aqui?? Tem que ser. Vamos a tópicos. Acabou-se o espaço e falta abordar três tópicos. Vou cortar, falo de cada assunto mais ao de leve. Está mesmo leve. Demais. Não estará telegráfico?
Agora o título. Vá, já és crescida, faz uma piadinha, um trocadilho, tu és capaz. Bolas, fica uma palavra de fora. Encolhe o espaçamento. Não dá mais. Muda a frase.
Relê. Ficou uma tanga, uma frase para cada fonte. Bem, ao menos houve fonte...
Mostra à editora, talvez te dê mais uma coluna hoje... Não? Está óptimo assim? Mas... ok.
Amanhã há mais.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

O charme do Paper Cup*

Ontem abriu o primeiro Starbucks em Portugal. Fui logo lá dar uma espreitadela. Ok, fui em trabalho, mas iria brevemente na mesma.
Infelizmente este primeiro é num centro comercial, mas já está pensado um café de rua em Belém, até ao fim do ano, e vários outros no futuro.
O meu entusiasmo é facilmente explicável: são anos e anos de filmes, de séries, de anúncios, de fotografias, enfim… daquela imagem romanceada de uma qualquer Nova Iorque ou Londres, em que as pessoas transportam cafés pela rua. O meu imaginário alterna entre o ritmo apressado das cidades – há sempre um café na mão quando as duas personagens chocam uma com a outra na rua e se apaixonam (“ai desculpe, sujei-a!”) – e o passeio melancólico e pensativo por paisagens de neve.
Starbucks lembra frio, claro. Tem o charme irresistível do inverno. O copo alto e fumegante que aquece as mãos geladas. Engolir aquele líquido familiar que nos aquece o esófago e tantas vezes a alma.
Hoje bebi um frappuccino de caramelo, que ainda faz calor e apetece um refresco.
Mal posso esperar pelo frio.



*Em Portugal adoptou-se a política de servir os cafés em loiça (chávenas e canecas muito catitas!), para ir de encontro à nossa tradição. Só os cafés que são para levar é que vêm nos “paper cups”.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O pé de cinco anos

Lobo Antunes foi a Nova Iorque promover o novo livro “Que fazer quando tudo arde?”. O Público foi com ele:

“- Comecei a escrever por causa do Mickey Mouse, do Flash Gordon, do Sandokan, aos cinco.
Até que, por falar em cinco anos, e quase de repente, contou do hospital de crianças cancerosas onde trabalhou depois de voltar da guerra de Angola e de como nesse hospital se zangou com Deus, apesar de não ser um homem religioso. Estava lá um miúdo de cinco anos com leucemia, muito bonito, de olhos grandes e, na sua opinião, Deus não tem o direito de pôr uma criança a gritar por morfina. O rapaz morreu e vieram dois homens com uma maca, mas como o morto era muito pequeno, bastou um homem enrolá-lo num lençol e levá-lo ao colo pelo corredor, mas um pé da criança saiu do lençol e ele viu o pé afastar-se, balançando no ar.
- Nesse dia decidi: vou escrever para aquele pé.
Talvez já tenham visto uma plateia de nova-iorquinos, professores, académicos, leitores, intelectuais, as pessoas mais cosmopolitas do mundo, a engasgarem-se nas próprias salivas silenciosas”.


Rui Cardoso Martins, escritor

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Coisas que não percebo

“Bem, no programa da Teresa Guilherme perguntaram a um homem se queria ter um pénis maior!” – disse chocada.
Silêncio dos meus colegas que costumam comentar avidamente programas televisivos.
Uns 30 segundos passados: “Não é assim tão mau, há perguntas piores. Além disso, não quer dizer que ele tenha um pénis pequeno, pode apenas ser ganancioso”, respondem.
“Mas a questão não é essa!” – digo – “O facto de perguntarem isso num programa de televisão e lhe darem dinheiro pela resposta é, no mínimo, aberrante!! Ou não?”
Silêncio. Encolhem os ombros.
Não percebo.

sábado, 20 de setembro de 2008

Um dos livros/ filmes que mais me marcou nos últimos tempos



Comes the morning
When I can feel
That there's nothing left to be concealed
Moving on a scene surreal
No, my heart will never, will never be far from here

Sure as I am breathing
Sure as I'm sad
I'll keep this wisdom in my flesh
I leave here believing more than I had
And there's a reason I'll be, a reason I'll be back

As I walk the hemisphere
I got my wish to up and disappear
I've been wounded, I've been healed
Now for landing I've been, for landing I've been cleared

Sure as I am breathing
Sure as I'm sad
I'll keep this wisdom in my flesh
I leave here believing more than I had
This love has got no ceiling

Eddie Vedder

A Boa

No outro dia cruzei-me com "a boa" da escola. Isso já tinha acontecido antes, já que moramos na mesma cidadezinha (é vila, é vila). Mas desta vez ela estava na mesma loja que eu e não me viu, o que me permitiu observá-la melhor.
"A boa" da escola não é nada boa. Está gorda, tem um nariz adunco horrível e uns dentes da frente tortos, grandes e saídos. Olhando para trás, ela já era assim no 9º ano. Menos gorda, mas também não tinha tido um filho.
Não me levem a mal, não tenho nadinha contra ela, sempre foi muito simpática comigo, aliás, com a generalidade das pessoas. Se falo assim dela é só porque constato que na escola o conceito de "boa" é distorcido. Como quase tudo na escola.
O que a fazia "boa" na escola eram as suas roupas justas (se bem que hoje em dia talvez não fossem assim tão justas...), a sua atitude de "comigo ninguém se mete", tão diferente de nós, que tínhamos que pedir autorização à mamã para fazer tudo. Era como falava de adultices, tinha namorados "a sério" (ou seja, dormia com ele), com um aspecto mauzão, tinha resposta na ponta da língua. Era como andava, como se inclinava quando ia ao quadro. Lembro-me claramente desses momentos em que os rapazes cochichavam e riam baixinho enquanto ela escrevia, ainda com giz.
Nunca duvidei que ela fosse "boa". Era assim. Talvez houvessem raparigas mais giras, mas ela era "boa" e acabou. Na escola havia imensas verdades inquestionáveis. Se não gostávamos da discoteca da moda, havia claramente algum problema connosco. Isso e muitas outras coisas.
Agora que a vi "a boa" na loja das fotografias, penso que não tenho mesmo saudades nenhumas da escola. No entanto, tenho que admitir que era uma época que, apesar de nada fácil, era simples, bastava seguir as regras. As amigas, quando decidíamos que eram amigas, eram para sempre. Nunca duvidávamos da validade das amizades. Da mesma forma que não duvidávamos que a "boa" era boa, apesar de ser feia.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

domingo, 14 de setembro de 2008

Para quem ainda não percebeu porque é que eu quero ir para Inglaterra

"Do you want to study journalism in the city which many call the media capital of the world? Learn broadcast journalism in the city where the BBC began? Be installed in a newspaper tradition that goes back nearly 400 years?"

Sim, University of Westminster, eu quero. Fazes-me um desconto?

O Post do Desassossego

No outro dia o meu pai disse que eu era uma pessoa desassossegada. Acha que sou uma alma insatisfeita, independente e que se desgasta sempre em busca de qualquer coisa que nunca é o que tenho na mão.
Nunca pensei em mim própria como uma pessoa desassossegada, apesar de achar que sim, é capaz de ser verdade.
Seguiu-se uma longa conversa sobre as pessoas que nascem com um sossego interior, que são felizes onde estão e com aquilo que constroem, e as outras. Era eu, portanto.
Não percebi bem se esta característica me foi atribuída como elogio ou não. O desassossego sempre fez as pessoas infelizes, pensei. Mas também lhes deu o impulso para criar vidas mais cheias, mais felizes, mais coloridas.
Por outro lado... o desassossego, esse que parece que tenho, não garante aventuras, não garante riscos, não garante idas sem voltas marcadas. Só garante uma vontade enorme que assim seja.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Sarah Palin

A candidata a vice-presidente de John McCain é uma verdadeira aberração política. Quanto mais olho para as eleições americanas (que sigo com imenso interesse) mais me orgulho de ser europeia.


"É suposto os republicanos quererem baixar impostos e combater défices. Ninguém nota que Sarah Palin aumentou os impostos num estado que não precisa deles (porque tem petróleo) e deixou 22 milhões de dólares em dívida a uma cidade do tamanho de Celorico da Beira, que antes tinha uma dívida de zero. É suposto admirarmos o facto de ela ter tido um filho deficiente, que é uma decisão pessoal. No plano público, ninguém se incomoda com ela ter cortado sessenta por cento dos fundos para apoio escolar a crianças deficientes. Ninguém se incomoda? Ninguém noticia, sequer. É suposto levar a sério o desprezo dos repúblicanos pelos "intelectuais". Ao mesmo tempo, ninguém investiga a sério as notícias de que Sarah Palin pressionou a biblioteca do seu município para censurar os livros do seu acervo"


Rui Tavares, in Público


sábado, 6 de setembro de 2008

Au Revoir é até breve



Assim de uma assentada vão todas embora. As despedidas já são o meu forte (mais ou menos).
Nos últimos anos aprendi que o mundo é bem mais pequeno do que parece e que nada é definitivo. Não é como quando mudávamos de escola e deixávamos os amigos para trás, porque parecia incomportável uma amizade sem o mesmo recreio.
Agora somos mais habilitados e sabemos como desmultiplicar o tempo e encolher o espaço.
Os dias passam entre preparativos, depois da emoção das etapas vencidas. É divertido. Mas depois chegam os autocarros e os comboios, eu encosto a cabeça no vidro e pronto - o que é que posso fazer? - penso. De uma maneira fraca, sentimental, filosofante. É um perigo.
Desta mistura sai um bolo de entusiasmo, de previsões futurológicas de sucesso, juntamente com uma nostalgia antecipada e uma leve melancolia solitária.
Dou-me conta do quanto confio nos seus conselhos, de como busco a sua companhia num dia mais desanimado. De como são o ingrediente perfeito para o "nada que fazer". Para um café solarengo, ou tardio. Para uma daquelas muitas mensagens de telemóvel "só porque sim", porque preciso de dizer esta ideia a alguém. De como me interesso pelas suas histórias, de como peço actualizações para me certificar que tudo está bem. Dou-me conta que de uma vez só vão-se as aventuras inusitadas, as fofocas mal intencionadas, as toalhas de praia e os mergulhos nada ousados. As indecisões profissionais, o maldizer dos colegas, o entusiasmo que se pode partilhar por uma folha de jornal.
A vida continua, sim. Mas com menos graça.

domingo, 31 de agosto de 2008

Amores impossíveis

A gargalhada do dia:



"A tinta do Metro também cheira bem!". Muito bom.

Telefonemas

"Temos que ir embora". Os telefones servem para soltar estas angústias.
Vamos fazer planos, vamos marcar datas no calendário, por favor - peço em jeito queixinhas da vida. Ele diz que vamos, com certeza. Mas nunca chegamos a um consenso. O mundo é grande demais para os projectos desmedidos. Somos desorganizados, sem metodologia, sem rumo. Somos anti-rumo. Anti-pó.
O mapa aberto leva dedadas consecutivas. Vá lá, ajuda-me a escolher. Espanha, França, Inglaterra, Escócia, Irlanda, Estados Unidos, sim, Austrália.Tantos outros, porque não?
As conversas acabam num suspiro, aquele grito abafado. Seguem-se os discursos revoltados, as frases amargas de velho que desperdiçou a vida a vê-la passar.
Trinca a língua com força, faz um sorriso. É tudo nosso. Pensa já na mala, a mala é o primeiro passo. Depois ensaia uma língua, paga um curso, lê uns livros, pesquisa na internet.
Pensa no que te faz falta. Está onde?
Quando encontrar, vens comigo?

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Cafés alheios

Quando numa redacção cafezeira, um dos chefes supremos dá o ar da sua graça, dirige-se à abençoada máquina e pergunta “Alguém quer um café?”, o que é que espera ouvir? Todos respondem “Não, não, obrigado”, ele olha em volta mais uma vez, com um ar cândido e moedas na mão: “Ninguém? De certeza?”. O momento transborda ironia. Impensável seria alguém dizer “Sim, já agora. Um capuccino com açúcar extra, se faz favor”.
Impensável mas divertido.

Good blogs - teremos hipótese?

"Good blogs have a voice. Who wrote this? What is their name? What can I figure out about who they are that they have never overtly told me? What’s their personality like and what do they have to contribute — even when it’s “just” curation. What tics and foibles fascinate make me about this blog and the person who makes it? Most importantly: what obsesses this person?"

Este é o primeiro ponto de uma lista de nove factores que Merlin Mann considera que fazem um Blog interessante. Para ler as outras oito (giras, giras...) é só clicar aqui: http://www.43folders.com/2008/08/19/good-blogs

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

“Pelas conversas que tenho tido em Moscovo e pelo que ouço na rádio e televisão russos, o Kremlin deverá reconhecer a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia nas próximas horas ou dias.”

A minha atenção é automaticamente desviada do assunto central e dou por mim a imaginar o José Milhazes a conversar “descontraidamente” em russo, num qualquer café de Moscovo, sobre a independência da Ossétia do Sul.
A ideia de uma conversa de café descontraída em russo sobre a guerra é tão bizarra que chega a ser divertida. Bom, isso e o José Milhazes.

sábado, 23 de agosto de 2008

Poema em linha recta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Álvaro de Campos (meu querido)
Se no mundo não existissem optimistas (essas pessoas por quem estou permanentemente apaixonada) tudo isto estancaria. Mas não tenho dúvidas que sem os cínicos, sem os descrentes, sem os hipócritas, muitos erros passariam impunes.
Por isso, deixem-me dizer mal da Margarida Rebelo Pinto, mesmo que "ponha as pessoas a ler" e seja "muito boa pessoa". Deixem-me "ser snob" e dizer que as novelas da TVI me causam asco, sendo os Morangos com Açúcar uma categoria à parte, classificada (por mim, claro...) como o programa mais medíocre e imbecil que por aí se oferece às jovens mentes.
Pronto, já está.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

“Não gosto nada de chineses, nem um bocadinho”. Começo logo a ripostar: “Como é que pode dizer que não gosta de uma nacionalidade inteira, que engloba milhões de pessoas? Não gosta delas todas?”. “Não gosto, só a vozinha deles me irrita”.
Irritada fico eu com estas coisas. Até gosto da senhora e por isso fui-me embora a morder a língua. Estamos a fechar o jornal, não se arranjem confusões.
Mas a verdade é que cada vez que alguém diz destas coisas eu – que tanta fé tenho na Humanidade – acredito um bocadinho menos no futuro, na Paz, e no entendimento entre os povos.

As casas de férias dos outros

Nunca percebi essa coisa do amor à terrinha. Tenho a certeza que o problema é meu, porque praticamente toda gente tem um carinho especial por um lugar. Não sei se é do facto de não ter “terra” ou de nunca ter ido passar férias ao mesmo sítio, mas a verdade é o conceito me ultrapassa.
Aliás, a ideia de passar férias, ano após ano, no mesmo local provoca-me um monumental bocejo. Qual é que pode ser o interesse disso? Concedendo a excepção às pessoas que vivem noutro país e regressam em visita, não vejo a quem mais possa interessar. Para mim férias (fora de casa) tem que equivaler a novo, a descoberta. Voltar todos os anos para o mesmo, frequentar os mesmos locais, ver as mesmas pessoas… ná! Investir balúrdios numa casa de férias, ao preço que está o low cost parece-me mesmo disparatado. Mesmo em Portugal, há tantos sítios giros para se ir ver.
Não me levem a mal os amantes da “terrinha”. Digo isto sem maldade, tenho noção que essa coisa do “meu cantinho” é um sentimento verdadeiro e forte e que se eu não o tenho, provavelmente até estou a perder com isso.
Gosto de traçar percursos novos, com mapa na mão, fazer pesquisas de preços na internet, buscar. Uma vez ou outra gosto de repetir o local, mas porque ficou alguma coisa por ver, por fazer, por experimentar.
Casas de férias, as que eu gosto mesmo, são as dos outros.
Às vezes lembro-me deste ou daquele amigo, e de como é fácil tornarmo-nos estranhos de quem antes abraçávamos.
As histórias permanecem, e permanece um carinho imenso por aqueles dias prazenteiros, divertidos e cúmplices. Por vezes um filme, um anúncio, um restaurante, um livro, uma notícia, e surge o alerta “Pessoa X havia de gostar de saber disto”. Ás vezes manda-se um e-mail, uma mensagem, outras não. Parece forçado.
Sempre tive inveja de quem mantém amizades longínquas fortes. Deixo-as apagar. Não consigo manter-lhes o brilho. Mas ficam as saudades, verdadeiras, sinceras. Mas não consigo telefonar, fico sem nada para dizer. Os e-mails que eram tão longos são cada vez mais curtos. Ganha-se uma certa cerimónia, uma distância.
Fica uma nostalgia misturada com o medo de nada voltar a ser igual. Suspiro.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A nacionalidade dos mortos

Sempre senti uma repulsa enorme pela obsessão mediática e social na busca pelos portugueses sempre que se dá alguma tragédia overseas.
O fenómeno já foi estudado e está legitimado. Aprendemo-lo na faculdade. Proximidade, dizem, faz parte dos valores notícia. Mas eu digo que há excepções para essa regra.
Perante o cenário aterrorizante do tsunami, metade da cobertura dedicou-se a colocar hipóteses rebuscadas sobre um português que talvez tenha ido lá passar férias.
A história repete-se sempre. Mais uma vez, agora com o acidente em Madrid, pelo menos cem mortos e já oiço o burburinho “De certeza que há portugueses”. Se as pessoas em questão tivessem familiares ou amigos a viajar para as Canárias, aí eu percebia. Agora assim… Parece que tudo respira de alívio quando não há portugueses.
Acho desprezível, miserável mesmo. Ora então, a morte de mil indonésios ou 90 espanhóis pouca mossa faz, o que importa é o compatriota desconhecido. Portanto, a vida humana tem mais ou menos valor consoante a nacionalidade das vítimas. Sinto mais a morte de alguém porque mora no mesmo país que eu? Que raio de lógica é essa?

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Pedro Mexia

Sempre achei o Pedro Mexia uma pessoa estranha.
Lembro-me de o ver num debate de "É a cultura, estúpido!", no S. Luiz, no Eixo do Mal, aqui e ali nos jornais, lançamentos de livros, discussões filosóficas. Nunca percebi qual era, de facto, a sua profissão. Para mim era um intelectual profissional. Um luxo, sempre pensei, já que se dedicava ao que gostava, ganhava assim a vida, coisa difícil para quem não se debruça em temas que agradam às massas.
Depois passei pelo Público. Quando me mudei para o terceiro andar passei a vê-lo praticamente todos os dias, lá no cantinho do Ípsilon. Dava por mim a espreitá-lo, como uma relíquia, uma celebridade. Um dia cheguei mesmo a levantar-me uns dois palmos do assento, com as mãos apoiadas nos braços da cadeira. Fiquei assim suspensa uns segundos a observá-lo. Ele era tão estranho.
Depois veio o blog, que comecei a ler com mais frequência. Saltava vários posts dedicados a cineastas e escritores com nomes complicados e desconhecidos. Havia ainda muitos sobre mulheres bonitas. E depois os outros, com uma piada enigmática interessante.
O homem interessava-me, quase como uma espécie rara. Vê-lo ali na cadeira, a escrever... Era estranho no seu aspecto nem novo nem velho, gordito, pouco cabelo, mas inesperadamente loiro. Tinha um ar de rato de biblioteca sarcástico. Um anti-social extremamente divertido. Perversamente inteligente. Prepotentemente culto. Adoravelmente desajeitado.
Era estranho.
E por fim chegou o livro de crónicas, como prenda de anos. Um livro de crónicas é muitíssimo perigoso. Se por ler uma crónica semanal, já me sinto próxima do autor, ler um livro inteiro de crónicas dá-me a ilusão de lhe conhecer a alma. É praticamente família. Claro que nem todas as crónicas têm esta capacidade; as crónicas da Teresa de Sousa dizem-me tanto sobre ela como sobre o porquinho-da-índia do meu vizinho de cima. Mas as do Pedro Mexia são um verdadeiro travar de amizade: ele fala dos vizinhos, dos amigos, dos cafés, dos cinemas, dos serões solitários, do seu peso, das namoradas, dos vícios. É como se fosse amigo de longa data, daqueles que já nem sabemos bem porque é que somos amigos. Rolo os olhos com o desfiar de autores alemães ou franceses, as citações estilo "se você nunca ouviu isto é porque deve ser uma abécula cultural". Mas depois... ele gosta de água tónica e quando era adolescente ia à Feira Popular. As tiradas hilariantes, o humor impecável, certeiro. A honestidade quase cruel como se desenha a si próprio. Afinal, não é assim tão snob. O homem gosta dos seus livros, deixem-no estar.
Continuo a achá-lo estranho. Mas sabem como é: primeiro estranha-se, depois entranha-se.